sexta-feira, abril 30, 2010

PATROCÍNIO E EU

Há registros que, em Havana, capital de Cuba, a estátua de José do Patrocínio está numa alameda, onde existem outras estátuas de “Heróis da Humanidade”. Lá, sim, o nosso Zé do Pato se encontra ao lado de seus iguais. Afinal sua luta em favor da abolição, representou a libertação de uma nação inteira exilada e de todas as suas gerações futuras. Coisa de gigante. Como diria o poeta escondido, Osório Peixoto, orgulho para “arrebentar o coração da gente”, seus conterrâneos.
Aqui, onde o menino Patrocínio veio à luz, leniência e letargia cívicas. A cena escultórica que conta a saga do Tigre da Abolição, no pátio de entrada do Palácio da Cultura, foi grosseiramente desfeita e violada pela obtusidade intelectual. O conjunto foi remontado na praça do canhão, sem qualquer critério ou referência para os que desconhecem a saga do filho da negra Justina. Duas agressões: primeiro à memória de Patrocínio e depois, à do poeta Antonio Roberto Fernandes, idealizador da obra de resgate histórico. Incansável na briga contra a burocracia que questionava o valor imaterial da homenagem.
Não cabe qualquer restrição crítica ao governo municipal de agora. Seria injusto imputar culpa a quem já encontrou o crime perpetrado. Ao Poder instalado, apenas o pedido para que repare o mal e dê àquela lembrança física do herói da abolição o destino merecido.
Mas não devo encerrar esse assunto sem antes assumir “a parte que me cabe neste latifúndio”. Tenho culpa a expiar. Minha culpa, minha máxima culpa, pela omissão e pelo acovardamento, afinal na época do desmonte e transferência das esculturas eu exercia uma função no governo de então. Seria indigno tentar justificativas tardias. Discordei, mas fiquei mudo. Ao contrário do herói, Patrocínio, que discordou e trovejou até a vitória final.

ESTAMOS CRESCENDO

Na idade média as cidades eram cercadas de muros. O entorno, improvisado e carente, se organizava em forma de vilas, daí, inclusive, a origem da palavra vilão – termo atribuído a quem morava nas vilas, fora do condomínio primário e assustava os pacatos e ordeiros moradores das cidades intra-muros.
Como se vê, a desordem urbana, primeiro se afigura no crescimento da periferia. Sinal evidente que a cidade transbordou e a sobra se espalha, geralmente, disforme.
Contudo, mesmo na segurança aparente do espaço citadino cercado de muros – visíveis ou não – a falta de planejamento acaba por produzir outras distorções. O trânsito caótico é uma delas.
A nossa vila formosa sofre as conseqüências do empirismo administrativo. A qualquer hora do dia, está complicado circular de carro por alguns corredores, entre os quais Pelinca, avenida 28 de Março e rua Alberto Torres. O tumulto é evidente. A impressão, em meio ao calor, a sinfonia de buzinas e a irritação, é de uma Bombaim, com menos história, apenas.
Falta ordenamento, faltam vias perimetrais, falta um plano viário decente... por conseguinte, falta governo.
No terminal Senador Luiz Carlos Prestes, no centro velho, lotadas, vans e ônibus disputam o passageiro, que sem alternativa, escolhe a condução menos pior. Estamos crescendo, comadre.

quinta-feira, abril 29, 2010

É ELE!

O empresário de comunicação, Barbosa Lemos, dono da Rádio Campos Difusora, é, hoje, o maior arauto do governo municipal. Influente e bem informado, Barbosa anunciou, pelo ar, que neste final de semana, o Garotinho virá à Campos para colocar “a casa em ordem”. Que ninguém duvide disso. Barbosa conhece bem Garotinho, que por sua vez e como ninguém, conhece os caminhos e atalhos da política.
Pelo visto a grande crise da administração municipal está com os dias contatos. O salvador da Pátria partida vem aí. É ele!

LULA ACREDITOU

O cineasta Michael Moore, uma espécie de Silvio Tendler hollyoodiano, escreveu na revista Time que o presidente Lula, do Brasil, é o líder mais influente do mundo. Lula acreditou e por conta disso tem tido noites de anjo. Quem não tem dormido direito é o companheiro Obama, que ficou no longínquo quarto lugar.
Esse novo status vai reforçar, com certeza, a legítima ambição de Luis Inácio de pleitear a presidência da ONU, Organização das Nações Unidas, depois que trocar de lugar com Dilma, a companheira Estela, dos tempos duros. É bem verdade, que nesse capítulo, ainda falta combinar com o povo.
Depois de ser incensado pelo Le Monde e El País, agora foi a vez da Veja americana, inflar os brios do nosso Comandante. Em outra época, estufaríamos o peito e diríamos, depois da Europa, agora foi a vez dos irmãos do Norte caírem aos nossos pés. Como se vê, com justificada razão, não há mais limites para o nosso “líder universal dos povos”.

CRIME DE PEDOFILIA EM CAMPOS

“Esse silêncio todo me atordoa,
Atordoado, permaneço atento,
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa.

Pai, afasta de mim esse cálice”.

Chico Buarque de Holanda e Gilberto Gil.

PLANO B. OU G

O Paço Municipal continua sem alternativa para reocupar a liderança, na Câmara. O nome que o governo defende para o cargo não está entre os atuais vereadores eleitos. Nesse momento delicado porque passa a administração, a prefeita gostaria muito de ter o suplente de vereador e atual secretário de governo, Edson Batista na função espinhosa de líder, mas para isso, terá que fazer uma obra de engenharia política.
O médico Edson Batista não é um aliado circunstancial, muito menos “cristão novo”. Tem história no grupo político liderado por Anthony Garotinho e perfil para pilotar o jato na turbulência. Para o governo seu nome soa como música. Para a bancada ofendida, no entanto, a solução é ruidosa.
O plano é convocar um dos vereadores para uma secretaria e abrir vaga para Edson, além de botar em campo a brigada de incêndio, que terá que agir com pressa para conter o fogo. Qualquer deslize agora pode ser fatal. O governo trabalha na margem de risco. Uma única dissidência na base aliada compromete de vez a maioria governista.

quarta-feira, abril 28, 2010

FLORAIS DE BACH?

A renúncia da liderança do governo municipal, na Câmara, pelo vereador Magal não é um ato isolado. Não se esgota em si mesmo. Na verdade, a carta de abandono do cargo entregue à presidência do parlamento, pelo vereador Jorge Magal é a parte visível de uma crise intestina na bancada governista. O caso é grave. Os vereadores da situação estão à beira de um ataque de nervos.
São muitos os sentimentos que atormentam os vereadores aliados: mágoa, insatisfação e frustração para não citar outros. Há ainda, agravando o quadro, a distância institucional entre o Executivo e a bancada. Para piorar, os acordos quando são feitos aqui, ainda dependem do beneplácito de sua senhoria, a eminência parda, que vive a quase 300 quilômetros da formosa Vila de São Salvador dos Campos.
Que fazer, então, doutor? Tem remédio para esses males? Que tal florais de Bach?
Como dizia Manuel Bandeira, o mais apropriado é um tango argentino.

SAIA JUSTA

A prefeita de Campos disse o que quis e ouviu o que não quis, na cerimônia de início das obras de desobstrução dos canais da baixada, em Donana, na manhã desta quarta feira, 28.
Acompanhada de quase todos os secretários e agregados, dona Rosinha reclamou do estado de inadimplência da prefeitura de Campos, a enfadonha e repetida “herança maldita”. Lamentou que o município ainda esteja em situação irregular e que, por conta disso, não pode receber os 97 milhões de reais do PAC, depositados na conta do governo do Estado para a obra dos canais.
O governador Cabral consolou a prefeita. Lembrou que quando assumiu o Estado do Rio, em 2007, a situação também era difícil, com dívidas em aberto e sem crédito. Disse que, com esforço e determinação, mudou, radicalmente, o quadro à ponto do Rio receber, há pouco tempo, grau de investimento concedido pela agência internacional de classificação de risco, Standard & Poor´s (S&P). Um crédito superior a 5 bilhões de reais.
Cabral, como se sabe, sucedeu dona Rosinha.
A prefeita ouviu o discurso do governador e compartilhou com seus aliados presentes, um tímido sorriso... amarelo.

MAGAL CANTOU, MAS NINGUÉM ENTENDEU

Magal já não se hospeda mais na desconfortável liderança do governo municipal, na Câmara. Jogou a toalha em plena sessão da manhã de hoje, 28, e caiu mascando. Eu sei que outros caem atirando, mas Magal não se permitiu a tamanho atrevimento. Se quis atirar, não conseguiu. Mascou, apenas.
Disse ao site Ururau (não sei ainda fazer aquelas indicações de links) que o motivo de sua saída deve-se a uma reunião de integrantes do governo, na noite da última terça feira, ocasião em que alguém muito bem chegado à prefeita, pode-se dizer da cozinha da administração, fez uma “acusação gravíssima” contra ele.
O líder demissionário não identificou seu detrator, muito menos explicou que “acusação gravíssima” é essa.
Agora, das duas, duas: ou Magal canta a pedra direito, diz quem o acusou e do que o acusou ou vai disseminar uma desconfiança geral e irrestrita dentro e fora do governo. As caldeiras da usina de boatos já fervem a todo vapor.

terça-feira, abril 27, 2010

GENTE QUE É NOME DE PONTE

O filho do falecido vereador Renato Barbosa, do PT, Renatinho, de 7 anos, encaminhou carta ao presidente da Câmara de Campos, Nelson Nahim, solicitando que seu pai “seja nome de uma ponte importante”. Pragmático, o menino disse que aguarda uma resposta dos vereadores. “Sim ou não?” A ponte em questão é a que liga os bairros do Fundão e Corôa e que, informalmente, foi batizada de Alair Ferreira.
A irriquieta Jô Ribeiro, que estava no plenário quando a carta foi lida, foi quem sugeriu ao então prefeito de Campos, Alexandre Mocaiber, que nominasse a ponte recém-construída de deputado federal, Alair Ferreira, um capixaba que marcou história por aqui e que, além de parlamentar e empresário, era íntimo dos governos pós 1964. Alair chegou a trazer o presidente Figueiredo à Campos, para a cerimônia de inauguração da sua estação de TV, afiliada a rede Globo, a TV Norte Fluminense.
A ponte ganhou o nome de Alair Ferreira, mas a Câmara Municipal não deliberou sobre a matéria, uma vez que o governo da época não encaminhou o projeto ao legislativo. Alair Ferreira é nome de um Posto Médico da Prefeitura e de um trecho da avenida 28 de Março.
A cobrança de Renatinho, embora inteiramente compreensível e factível, vai levantar uma polêmica. A velha guarda que conheceu e conviveu com Alair Ferreira, vai sair em sua defesa de sua memória.

DESAFIO ACEITO

Pronto. Fiz aqui o desafio e a prefeita vai encarar a fera. O líder do governo, na Câmara, o double de vereador e cantor, Magal, anunciou que sua excelência vai passar boa parte do dia de amanhã, quarta feira, no Hospital Geral de Guarús. Fica faltando marcar uma ida a um dos hospitais conveniados, em dia de marcação de consultas. Ao que parece, é o freio de arrumação na Saúde.

LINGÜÍSTICA CABALÍSTICA

Tem coisas que surgem não se sabe de onde e lastram como rastilho de pólvora. É o caso, por exemplo, dos que resolveram falar no gerúndio. É um tal de “estar fazendo...” “estar visitando...” “estar comunicando” e outros tais.
O pior é que esse cacoete é muito comum em professores. Quem fala assim coloca muletas na mais ágil e apaixonante das línguas. É como amarrar com arame a “última flor do Lácio, inculta e bela”. Porca miséria.

segunda-feira, abril 26, 2010

ESCRAVIDÃO NOS CANAVIAIS

A propósito da ação do Ministério Público Federal, que flagrou trabalho escravo no corte da cana, em Campos, achei conveniente postar essa poesia escrita em 1989.

PRIMEIRA ESTAÇÃO

Meio mar,
O canavial clareia sob a manhã nascida.
Ali o tempo não anda,
Não aboliram a escravatura,
Não proclamaram a República.
Imperial, a plantação atravessa o século,
Impunemente.

SEGUNDA ESTAÇÃO

Eles formam duas fileiras
Na carroceria do caminhão.
Vão ombro a ombro
E vistos assim, mansos cordeiros de Deus,
Nem parecem ser os que sustentam
A Usina e seus domínios,
A mesa farta, baronal
Da casa grande.

TERCEIRA ESTAÇÃO

São homens e mulheres como nós:
Carne,
Ossos
E sonhos.
Diferem, apenas, na força.
Aprenderam com a fome
Que a vida tem seus protegidos
E que o resto é luta.
Como milagreiros
Transformam cana em açúcar,
Longe do lucro
E da lei.

QUARTA ESTAÇÃO

As mulheres do canavial
Tem o olhar limpo
Como a luz do dia.
Algumas trazem atrás de si
Seus anjos encardidos.
São todas fortes e férteis
Como a terra.
Acreditam na grande colheita da Justiça, um dia.
Enquanto isso
Lavram o sonho.

QUINTA ESTAÇÃO

Os homens esperam o milagre dos pães
E dos peixes que demora tanto.
Conhecem a comida fria
Defendida dia a dia à catana e facão.
O que não foi possível ainda
É saciar a sua imensa
Sede de Justiça.

SEXTA ESTAÇÃO

O fogo arma sua tenda incandescente
Sobre o canavial.
Pardais assustados
Flecham no horizonte vermelho.
A tarde arde na planície.
Subterrânea, a soca resiste
E promete vingar-se.
Fará erguer do chão de cinzas
O facho verde
Da vida.

NADA MUDOU

No próximo 1º de Maio, Dia do Trabalhador, a passagem subsidiada de ônibus, em Campos, completa um ano. Os milhares de campistas que têm direito ao desconto bancado por nós mesmos, já se acostumaram em pagar um valor menor e a maioria já acha que paga caro.
O que mudou no transporte de passageiro desde então?
A única mudança percebida é que os ônibus passaram a rodar mais cheios, muito mais cheios. Gente que migrou das perigosas lotadas. De resto, nada!
Os trajetos são os mesmos, a espera no ponto é cansativa – em algumas linhas, interminável, como é o caso da que liga o centro ao parque Califórnia, a renovação das frotas é tímida e grassa, sem lei e sem controle, os transportes alternativo e clandestino.
Quem sabe, o governo da mudança não se prepara, com pompa e circunstância, para anunciar, no dia 1º, um novo plano viário para o Município? Sabe lá? Afinal é de onde não se espera... (complete a frase).

ENTRE UMA BRAVATA E OUTRA

A prefeita de Campos é voluntariosa. Agiu prontamente, sem mesmo conhecer os meandros do problema, na questão do acadêmico que teria prescrito uma receita com assinatura da médica de plantão, no PU de Guarús. Essa, ao que parece, é uma virtude de casal – o Garotinho, seu esposo, também já demitiu um médico e um secretário de Estado, pelos microfones da Rádio. Em situações distintas, é verdade!
Mas se é pra ficarmos ao sabor das bravatas, então, gostaria de sugerir uma. Que a prefeita visite, pessoalmente, as filas de marcação de consultas dos hospitais conveniados. E antes que algum assessor se apresse em bradar que hospital conveniado não é problema da prefeitura, lembro que estamos na vigência da Saúde plena, camarada.
Ou, pra ser mais ameno, uma ida ao Hospital Geral de Guarús, nos finais de semana para conferir o atendimento. Eu sei que, por mais que ela queira, será desaconselhada por um séquito.
Longe de mim, querer provocar, mas que o Garotinho iria, ah, iria!

APRESSADA

O episódio que envolveu um acadêmico e uma médica, no Posto de Urgência de Guarús, segundo o qual, o estudante prescreveu uma receita, supostamente, assinada pela doutora, estabeleceu um cabo de guerra entre o governo municipal e a classe médica. No meio do confronto de força, justamente na parte mais tensionada do embate, está a sociedade desassistida – Os SUSsianos.
O que se percebe do caso é que, ou a prefeita agiu com pressa, ao passar o repto público nos envolvidos e determinar que a denúncia abrisse boletins de ocorrência na Delegacia de Polícia e Ministério Público, ou desconsiderou os conselhos do seu pessoal da área – secretário de saúde, vice-prefeito e presidente da Fundação que gerencia os Postos de Urgência. Sim porque, os médicos oficiais, experientes, sabem que os acadêmicos são indispensáveis no atendimento primário. Sabem que o fato era corriqueiro e continua sendo. E mais, há quem diga que, sem eles (os acadêmicos) o sistema não funciona – o público e o privado.
A valentia da prefeita em anunciar a sentença, antes do julgamento, revelou-se baldia.
O gesto, por sua vez, desencadeou a velha e surrada tradição coorporativa dos médicos e o sindicato programou uma assembléia, que já se anuncia incendiária. Os doutores vão exigir retratação pública e ampliar a discussão sobre o modelo de atendimento à saúde. Eles sabem das coisas. Em suas mãos chegam, primeiro, as dores e angústias da população, da famosa base da pirâmide, responsável direta pela eleição dos governantes.
O fato em si, que merecia um inquérito administrativo e após a investigação, o melhor encaminhamento, virou enredo para uma novela de final ainda imprevisível. Foi super dimensionado pela mídia e pelas paixões político-partidárias, além do que, revelador. Foi a primeira vez que um governo atira, voluntariamente, no próprio pé. A denúncia foi feita por uma assessora da prefeita, com assento em cargo de confiança da secretaria de Trabalho e Renda, depois de consultar a própria prefeita pelo telefone.
Agora, apreensivos SUSsianos, não cabe mais apenas o resultado prático da apuração do episódio, o que está sendo aguardado é o final do confronto entre governo e classe médica. Quem cairá? E caia quem cair, a conta será paga por vós. Como sempre.

sexta-feira, abril 23, 2010

CHEGARAM

Ah, os adversários, os indefectíveis adversários chegaram. Bastou o bloguinho botar a cabeça de fora e pronto, eles aportaram com dentes de sabre.

Não são bem vindos, mas ainda assim eles vêm. Querem porque querem espaço para brigar. Tolos, desconhecem que só brigo com quem quero. Assim como seleciono amigos, também escolho adversários. Só os coloco no meu front se eu puder tirar alguma lição da contenda. Via de regra, meus desafetos aceitos são maiores que eu, me ensinam quando brigam comigo.

Digladiar com pigmeus morais, nem pensar! Fico obrigado a lutar olhando para baixo, para suas tristes figuras. Quando isso acontece, sou tomado da mais piegas das comoções.

Adversários ideológicos (?), circunstanciais e outros entrem na fila. Aguardem sua hora. Que pode não chegar nunca!

quinta-feira, abril 22, 2010

CARTA À PREFEITA DE CAMPOS

Querida Prefeita, espero que esta ao chegar às suas mãos, a encontre gozando da mais perfeita saúde. Por estas mal traçadas linhas, venho fazer-lhe um pedido e, ao mesmo tempo, desmascarar essa gente da oposição, que só pensa em maldade e malquerença.
O pedido é sobre a Kombi que atende minhas amigas da melhor idade do Farol de São Tomé, que há duas semanas, está parada, com defeito. As “meninas” para irem a fisioterapia andaram se cotizando para pagar o conserto e aí você já viu, né? Foi o suficiente para a turma do contra desandar a falar mal da gente. É verdade que a Kombi está esbodegada, mas também não é essa coisa toda, como eles dizem. Deus nos livre de oposição, essa turma é casca de ferida.
Prefeita, tapa a boca dessa gente. Manda logo consertar a Kombi. Se der, converse com Suledil, vê sem tem aí alguma sobra de royaltie e tente comprar uma nova. Aí quero ver a cara de mamão que eles vão ficar.
Fique com Deus e siga em frente, enquanto os invejosos mordem os beiços.
Abraços,
Vovó Adelaide*

(*) Personagem do Programa Fala Garotinho, transmitido pela Rádio Manchete e cadeia de Rádio, de segunda à sexta, entre 10 e 12h.
Com licença poética.

BENTO XVI CHORE POR NÓS

O papa Bento XVI chorou, em Malta, às margens do Mediterrâneo, pelas vítimas de abusos sexuais cometidos por padres pedófilos. Chorou pelo crime de seus pastores, a quem Deus confiou o rebanho para ser cuidado.
Aqui, na província dos Goytacazes, a sociedade também chora, mas por outras razões. Chora pelas dores ficcionais das novelas. A notícia terrível, segundo a qual, duas meninas foram assassinadas, depois de serem usadas sexualmente por pedófilos, ao que parece, já foram digeridas, com convém.
Esse soco no estômago da nossa brava cidadania, esse tapa na cara de nossa controvertida consciência, ainda estão sem resposta.
As igrejas estão mudas, a “politicamente correta” sociedade civil se acovardou e, bumba meu boi, que é carnaval fora de época!
Que, ao menos, sua Santidade, guarde algumas lágrimas para nossas meninas. Amém!

A CASA VAI CAIR

A casa Terra vai cair. Mais cedo ou mais tarde. Tomara que na hora não haja ninguém ao alcance dos escombros.
Essa situação, parece, inverossímil, mas somos uma província sui generis, surreal, não se esqueça disso. O enredo desse drama supera a nossa capacidade de inventar absurdos: há uma ação, à passos de cágado, no Judiciário, que impede a demolição de um imóvel, literalmente, em ruínas e todos estão imobilizados.
Não há uma ação, por exemplo, obrigando alguém (proprietários ou Poder Público) a recuperar o prédio enquanto ele ainda está de pé? Ou a única certeza, nessa história bizarra, é que a casa vai cair?

quarta-feira, abril 21, 2010

CONVIDADOS PARA A CRISE DO CARNAVAL

Os intelectuais adoram classificar o carnaval brasileiro como ópera popular. Grandiloqüente em todos os sentidos. Mas é preciso, no entanto, contextualizar essa assertiva. Isso se dá no sambódromo carioca, palco internacional das escolas, que há algum tempo, são entidades auto-sustentáveis e S.A. Em São Paulo, a história é outra. Lá, as escolas também são grandes, mas, sem exceção, quadradas, sem graça, cafonas, “o avesso, do avesso, do avesso, do avesso”.
E em Campos, compadre? Ah, em Campos, somos o “terceiro carnaval do Brasil” (de baixo pra cima!). Esse ano, então, a crise é psicodélica – sem querer fazer trocadilho infame com o bloco do Morrinho. Justamente, quando as contradições do nosso pobre carnaval estão latejando como fratura exposta, a prefeitura leva esse enredo tosco para uma superavenida de desfiles, sem concorrência dos megashows do Farol e traz para abrir a festa, a escola Porto da Pedra, de São Gonçalo e a comissão de frente da Unidos da Tijuca, campeã deste ano, ou seja, a casa grande do carnaval do Rio.
Depois da apoteose, haja coração. Vão passar as corajosas entidades de Campos, heroínas da resistência, terreiro do samba, mas, contudo e apesar de tudo, Viva Dalvino Costa, Viva Eli Miranda, Viva Jorge Chinês, Viva Waldo Pessanha, Viva Verton Nunes, Viva...

DONA CARLA, A PARTEIRA

Em 1866, Madame Duroche era a parteira oficial da Casa Imperial do Brasil. Chegou a atender a dona Leopoldina. A francesa Maria Josephine Mathilde Duroche era uma figura exótica, que se vestia de sobrecasaca, gravata borboleta e cartola e não distinguia classe social. Fazia parir mulheres nobres, plebéias, escravas e negras forras. Chegou a ganhar diploma da Escola Nacional de Medicina. Na corte, na segunda metade do século XIX, parteiras eram imprescindíveis.
Há, por aqui, bem perto, outras Madames Duroche, sem tanto reconhecimento, é verdade, mas igualmente missionárias. São elas, por exemplo que garantem a linhagem de sanjoanenses, já que em San Juan, no décimo ano do século XXI, não há ainda maternidade ou hospital público.
Como se vê, a prefeita Carla Machado está só um século e meio atrasada.

terça-feira, abril 20, 2010

ORDEM DE GRANDEZA

E depois não querem que o governículo municipal seja soberbo. Ainda agora, a prefeita acaba de mandar à Câmara de Vereadores um pedido de suplementação orçamentária de pouco mais de 347 milhões de reais. Resultado de superávit do exercício passado e das economias do guarda-livros Bernardino. La bagatela a ser suplementada é muito, muito mais do que o orçamento inteiro da maioria das cidades do Brasil.

segunda-feira, abril 19, 2010

ANTES A GENTE MORRIA DE GRAÇA

O engenheiro José Geraldo descobriu a pólvora, enquanto a OHL, concessionária da BR-101, no estado do Rio, promete, sem saber como, incendiar o mar.
A nova gerente da Estrada anuncia duplicação da via e pede um prazo elástico, mesmo com uma estatística cavernosa de acidentes diários e mortes às dezenas.
Zé Geraldo, com o pragmatismo que a urgência recomenda, anuncia uma solução paliativa, absolutamente, viável.
Segundo ele, a OHL, enquanto prepara a duplicação, pode, a cada 10 km, nivelar o acostamento, alargá-lo o suficiente, numa extensão de 2 km, para servir de variante para os lentos caminhões que travam o trânsito.
A medida serviria para desafogar o fluxo pesado e reduziria, com certeza, o número de acidentes.
Por enquanto, a única mudança percebida na velha e perigosa BR-101, é que antes da privatização, a gente morria de graça.

domingo, abril 18, 2010

SALVE!

A partir de hoje, com a freqüência proporcional ao meu estado de ânimo, quero falar as bobagens que achar convenientes sobre todos os assuntos e sobre nada. Rendo-me ao universo dos blogs, sem muitas cerimônias. Não tenho pretensões de recordes de assistentes, aliás, se o recorde for negativo será um bom sinal. O que quero é editar um diário eletrônico, ou quem sabe, um confessionário virtual, como parte da minha auto-terapia. Afinal, como teria dito alguém ilustre, “vaidade, tudo é vaidade”. Vamos em frente. Seguem aí, logo abaixo, duas poesias novas, que vão como batedoras do comboio que virá.
Até...

sábado, abril 17, 2010

Voraz

Vislumbro na mão aberta,
O resultado plástico
Da criação mecânica:
O telefone que fala, ilumina,
Ouve, ensina, canta,
Empina pipas anatômicas,
Dispara a voz, flecha atômica
Sobre os oceanos,
Sobre os humanos que amam
Nos confins do Himalaia.
Formas arredondadas,
Cristal líquido.
As curvas ainda mais
Sensuais que as da
Mulher recém-desabrochada.
O aparelho telefônico,
Fibra de vidro,
pétala fina de petróleo,
um bólido reluzente
e vivo.
Aperto-o na mão
Por alguns segundos
E o afundo no lago profundo
Da antiguidade que me rodeia.
Ao revê-lo já não me assombro
A tecnologia já sugou de seu fio
Um clone ainda mais esguio.
Ruiu sobre mim e ele
O passado faminto,
voraz.

Fernando Leite

Minha casa

Salto dentro da tarde,
Como quem cai na correnteza do rio temporal.
Vou sem volta.
Pássaros batem em retirada de mim.
É incomum que levantem vôo
Quando a noite se alonga.
A noite é casa de andarilhos,
Poleiro de avoantes.
Quintal sem cercas é o claro dia.
Aves de arribação vêem o movimento das estações,
Os sinais de velhice no dorso de minhas mãos.
Eu inverno.
Minha linhagem é assim: começa a entardecer pelas mãos.
Esse assalto do tempo é lenta agonia,
Mas assombra.
Faz levantar andorinhas, papa-capins e os cantadores.
Se pudesse escolheria não morrer comum.
Queria a nona sinfonia abrindo as portas do mistério.
Mas agora o que quero é minha casa
Tal e qual era:
As janelas maciças, feridas de sol
Naquela tarde suburbana
Tão longe.
Quero minha casa de volta.
A noite miúda dentro do quarto,
O cortinado armado,
Meus irmãos nos beliches
E a madrugada lá na bica d’água vazando,
Vazando,
Vazando.
Quero minha casa onde era
Na descida do morrinho,
Bem em frente a vivenda de dona Tinola
Antiga, com a moenda triturando o milho e a tarde,
A galinha de pinto no terreiro
E o lençol transparente do dia desfraldado
No varal.
Atrás da figueira,
O canto do canário belga
- Uma flecha de porcelana atirada -.
Quero minha casa e minha mãe,
Mãe medieval, tronco e braços,
Músculos na bacia, avental, fogão de lenha
E flor quando havia tempo.
Minha mãe na igreja, nave mística,
Ancorada entre a praça e a rodoviária.
Os santos barrocos de sorriso que não combinava
Com a manhã nos vitrais.
O pecado grudado no meu pescoço
E eu com pavor da fúria de Deus.
Quero minha mãe sublimada, senhora soberana.
Quero minha casa
As mangueiras, laranjeiras, goiabeiras,
Esteios do reino de memória.
O céu bem acima das copas
E as pipas revoltas, suicidas, desgarradas
Vento à fora.
Não quero nada além das fronteiras
Do campo de meu afeto –
Mares, montanhas brancas, falésias,
Geografia do meu desconhecimento
Terras que só ouvi falar,
Territórios do sono.
Quero só minha cidade poema de volta,
Minha infância, seus domínios e seus cheiros,
A broa de milho, os eucaliptos do seu Nico Figueira
Vergados nos temporais,
Maria Tabajara e sua alegria atávica,
O olhar crepuscular daquela menina.
Preciso de São Fidélis e sua geografia mítica,
Porto onde o mundo começa e termina.

Fernando Leite