Há registros que, em Havana, capital de Cuba, a estátua de José do Patrocínio está numa alameda, onde existem outras estátuas de “Heróis da Humanidade”. Lá, sim, o nosso Zé do Pato se encontra ao lado de seus iguais. Afinal sua luta em favor da abolição, representou a libertação de uma nação inteira exilada e de todas as suas gerações futuras. Coisa de gigante. Como diria o poeta escondido, Osório Peixoto, orgulho para “arrebentar o coração da gente”, seus conterrâneos.
Aqui, onde o menino Patrocínio veio à luz, leniência e letargia cívicas. A cena escultórica que conta a saga do Tigre da Abolição, no pátio de entrada do Palácio da Cultura, foi grosseiramente desfeita e violada pela obtusidade intelectual. O conjunto foi remontado na praça do canhão, sem qualquer critério ou referência para os que desconhecem a saga do filho da negra Justina. Duas agressões: primeiro à memória de Patrocínio e depois, à do poeta Antonio Roberto Fernandes, idealizador da obra de resgate histórico. Incansável na briga contra a burocracia que questionava o valor imaterial da homenagem.
Não cabe qualquer restrição crítica ao governo municipal de agora. Seria injusto imputar culpa a quem já encontrou o crime perpetrado. Ao Poder instalado, apenas o pedido para que repare o mal e dê àquela lembrança física do herói da abolição o destino merecido.
Mas não devo encerrar esse assunto sem antes assumir “a parte que me cabe neste latifúndio”. Tenho culpa a expiar. Minha culpa, minha máxima culpa, pela omissão e pelo acovardamento, afinal na época do desmonte e transferência das esculturas eu exercia uma função no governo de então. Seria indigno tentar justificativas tardias. Discordei, mas fiquei mudo. Ao contrário do herói, Patrocínio, que discordou e trovejou até a vitória final.
Parabéns pela iniciativa e a solicitação.
ResponderExcluirErrar é humano, mais pior é persistir no erro.
Você faz a diferença.
Um forte abraço.
Participei da inauguração da cena escultórica, se não me engano, no dia do aniversário do nosso Patrocínio, no Palácio da Cultura. A banda de música, a empolgação do Joás (o escultor), o brilho intenso no olhar do poeta Antonio Roberto, que havia lutado tanto por aquele momento... Desse dia, tenho fotos lindas, que guardo com muito carinho. Agora, um sentimento muito ruim me invade toda vez que vejo as estátuas em seu novo "lar". Fizemos várias matérias no Monitor em forma de protesto mas, venceu a insensibilidade. É triste lembrar do dia em que as estátuas foram retiradas.Ficaram apenas as recordações daquela bela manhã de outubro: o poeta, o artista, a música... e algumas jangadas desenhadas no chão de cimento.
ResponderExcluirIh, Fernando...
ResponderExcluirAcabei trocando as jangadas pelas caravelas... rsrsrs. Favor corrigir.
Abraços.
Eu, caro Fernando, à época fui do contra, como aliás, continuo sendo, nasci torto na vida. Fui voto vencido nas discussões, muitas vezes, ou melhor, prevaleceu as tratorianas opiniões de quem "idealizou" a mudança e acabou por cometer uma série de crimes de lesa-cultura, a saber: o primeiro que foi a retirada do seu local de origem do histórico canhão que de forma bucólica dava nome à pracinha. O segundo que foi retirar o grupo escultórico do local que, para mim era o ideal e o terceiro foi o de ter sido, o mesmo grupo de esculturas, ter sido colocado num local onde o acesso para deficientes físicos, principalmente cadeirantes, é complicadíssimo. Não foi por falta de aviso, na época, o poder público preferiu fazer ouvidos de mercador e deu no que deu.
ResponderExcluirForte e fraternal abraço.
A estátua de José do Patrocínio foi retirada do Palácio da Cultura no dia da morte de Antônio Roberto, que profetizou "Alguma coisa vai tombar, gritando, no dia em que eu morrer”.
ResponderExcluirFernando não basta apenas reconhecer o pior dos pecados a omissão. É preciso dar nomes aos bois para registrar na história os venais desta terra dos goytacazes!
ResponderExcluirSr.Fernando, o que eacho ençado é que fala-se em verde, naturezam ambietalista e todos estão calados, se o senhor verificar, fizeram um bolo de concreto armado sem verde sem árvores e colocaram as estátuas, uma coisa sem lógica, incrível perto do partido do prefeito que autorizou.
ResponderExcluirAlguém poderia me explicar se tiver uma lógica para tanto descaso?
Pena, caro Fernando, é que sua participação no governo anterior (ainda mais como secretário de governo) não te descredencia apenas a falar da retirada da estátua de Patrocínio, mas de todo o resto...
ResponderExcluirÉ duro, dói mesmo, ver uma capacidade analítica tão apurada - embora, às vezes, um tanto nublada por uma raiva visceral típica das velhas amizades transformadas em hostilidade - perder tanto de sua legitimidade...
Mas tudo bem, assim é a política...
Isso não altera a qualidade de suas críticas nem a validade da leitura do blog.