terça-feira, setembro 12, 2017

SILVINO AMORIM NETO: O SENHOR AGRONOMIA

Jornal terceira Via




Entrevista com Silvino Amorim Neto: o senhor da agronomia

Ciência, pesquisa, música e violão integram o repertório deste veterano engenheiro da Pesagro/Campos

CAMPOS 
POR COLUNA DO BALBI
 
11 DE SETEMBRO DE 2017 - 0h05
Silvino Amorim Neto nasceu no Piauí. Formou-se em engenheiro agrônomo em 1967 pela Universidade Rural de Pernambuco. Talvez seja o maior pesquisador de variedades de arroz do país, tanto que está desenvolvendo uma nova, a do arroz preto que pode revolucionar o mercado de grãos. Funcionário da Pesagro, ele tem uma vasta experiência nesta área.
Em Campos há mais de 40 anos onde desenvolveu uma dúzia de variedades de arroz, Silvino também é reconhecido como um homem refinado e um grande violonista, já tendo gravado quatro CDs e dando tratamento final em mais um.
Você é piauiense, formado em Pernambuco e veio parar em Campos. Como foi isso?
Era filho de produtor rural no Piauí e meu pai me incentivou, a mim e aos meus irmãos, a estudar a terra, ou seja, a agronomia. Então, somos três agrônomos na família.
Mas por que a opção de fazer o curso em Pernambuco?
A Universidade Federal Rural de Pernambuco é uma das mais expressivas universidades de agronomia do país. Por isso a escolha. Era um vestibular bastante disputado e eu passei no primeiro. Me formei em 1967. Em seguida, já formado, trabalhei como pesquisador do Instituto de Pesquisa Agronômico do Nordeste, hoje Embrapa. Logo em seguida fui selecionado para fazer mestrado em melhoramento de plantas na Universidade Federal de Pelotas no Rio Grande do Sul. Cheguei a trabalhar na Epagre, em Santa Catarina.
Mas como veio parar em Campos?
Como naquela época tínhamos aqui uma grande área, cerca de 50 mil hectares de arroz, a Embrapa sugeriu que eu viesse trabalhar aqui. Isso em agosto de 1978, quando cheguei aqui.
E nunca mais foi embora?
Fizemos um trabalho técnico muito bom, através de convênios com o IRRI, o maior instituto de arroz do mundo, em Manilha, nas Filipinas. Tivemos convênios também com institutos na Colômbia (CISAT), em Palmira e o nosso Centro Nacional de Arroz (CNPAF).
Então são mais de 40 anos de pesquisas. Quantas variedades foram produzidas aqui em quatro décadas?
Nós, através de um trabalho de pesquisa aplicada, junto ao sistema produtivo, com a participação da extensão rural, conseguimos selecionar e recomendar para o uso extensivo na região cerca de 12 cultivares de arroz de alto potencial produtivo e de excelente qualidade de grãos. Atrelado à pesquisa, tivemos que produzir também sementes para poder distribuir essas variedadespara o sistema produtivo. E com esse trabalho, foi possível elevar a produtividade, que era de 1.300 quilos de arroz por hectares para cerca de 4 mil quilos por hectare, sendo hoje comum alguns produtores produzirem acima de 6 mil quilos de arroz por hectares.
Isso rendeu um livro não foi?
Todas as tecnologias recomendadas desde a época de semeaduras e tratos culturais, colheita e beneficiamento, estão contidas no livro que tem como título “A cultura do arroz irrigado no Estado do Rio de Janeiro”, de minha autoria. É um livro de resultado de pesquisas no Norte/Noroeste e Baixadas litorâneas.
O arroz deu certo em Campos?
Temos ótimas condições edafoclimáticas – solo e clima – na região para a cultura, tendo em vista que na estação experimental na Região Experimental no Noroeste do município, pequenos produtores tiveram experiências com produções acima de seis mil quilos de arroz por hectares.
Isso é acima da média nacional?
Muito acima da média nacional. Quase o dobro. É muito arroz. Porém, a cultura não evoluiu por falta de incentivo do poder executivo municipal, que não teve a sensibilidade de proporcionar condições mínimas para a produção: estradas, armazenamento, irrigação. É uma longa história.
O Estado do Rio de Janeiro que importa 98% do que come, poderia ser autossuficiente se houvesse uma política de apoio à produção?
Sim. Principalmente nas regiões de áreas mais extensivas. Na semana passada, tivemos um dia especial da cultura do feijão mostrando a colheita de 200 hectares com a cultura do feijão (variedade BR-Xodô, indicada pela Pesagro Rio), na fazenda Ilha da Saudade. Em frente essa fazenda, existe uma outra que pertencia ao grupo Monteiro Aranha, que cultivava 200 hectares de arroz, o que abrirá possibilidade de reabertura de pequenos engenhos na região Noroeste, postos que estavam fechados por oferta de grãos, ou seja, existe uma porta aberta para o desenvolvimento da cultura no Estado do Rio de Janeiro.
É possível plantar arroz consorciado com cana?
Não. A Pesagro tem alta tecnologia para o consórcio cana-feijão. O arroz implica em diferenciais, como áreas inundadas por isso a irrigação tem que ser constante. Na região do Carvão, um tradicional plantador de cana teve uma excelente produção com arroz durante três anos.
E por que parou?
Porque chegou à conclusão de que para o cultivo ser econômico, ele precisaria de uma área bem maior, com equipamentos maiores. Não teve apoio do poder público. Eu sugeri que o Fundecan fosse procurado, mas não encontrou apoio.
Qual é o quadro atual?
Atualmente estamos com projeto do Rio-Rural fazendo um bom trabalho de uma intensivo de várzeas em Italva na Microbacia Carqueija, onde testamos duas cultivares de arroz, a EPAGRI 109 e a BRS Tropical, conseguindo em uma área de 7 mil e 800 metros quadrados, uma produção de cerca de cinco mil quilos de grãos, com produtividade média de 6,7 toneladas por hectares. Toda essa produção está sendo adquirida pela Prefeitura de Italva no programa PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar – com valor de 20% acima do preço médio, como forma de incentivar a agricultura familiar. Após essa colheita foi dado a continuidade com a cultura do feijão, colhendo-se cerca de 2 mil quilos de grãos por hectares.
Para terminar, e o violão?
O violão é minha grande paixão. Estou estudando há 40 anos, iniciando tocando de ouvido, por cifras, e depois fiz cursos de teoria musical e atualmente tenho um grande repertório envolvendo músicas populares, clássicas e eruditas. Já cheguei a produzir três CDs, “ Romance de amor”, “ Violão Romântico” e “ Tributo aos grandes compositores”, estando planejando o quarto CD que terá como título “ Um violão no cinema”, envolvendo trilhas sonoras de grandes filmes.

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