terça-feira, julho 25, 2017

CRÔNICA DO JORNALISTA ÁLVARO MARCOS

Quase conhecido

Não, não é tão simples assim te cumprimentar. É estender afeto a quem praticamente desconheço de rosto. O que é uma feição? Pode o dicionário explicar como traços simbólicos e identificáveis de alguém. Pelo menos é minha definição sobre. Não te ver, pessoalmente, resume-se a mero detalhe fotográfico. A afinidade singela de frases nunca trocadas até hoje ultrapassa a falta do frente a frente. E palavras poderiam ter apenas sido escritas, transmitidas da frieza dos teclados para as redes sociais. Sem o som que identifique timbres ou deixe rastros de emotividade escancarados ao contato visual.
E foi dessa distante maneira que tentei, em vão, parabenizá-lo. Digitei poucas sílabas antes da conexão à internet desabar. Essa operadora não tem jeito mesmo. Sobram reclamações inclusive no mesmo Facebook onde arrisquei expressar minha admiração logo no dia do seu aniversário. Não importa. Pode ter passado essa oportunidade de calendário; sobrarão chances vida afora. Ou não. Ou até em outras vidas, quem sabe. Quem sabe, até, essa proximidade, essa discretíssima afinidade, não venha de outros mundos, de contatos longínquos e muito, muito inexplicáveis…
Ouvi falar de ti ainda jovenzinho, recém-saído da adolescência. O tio da primeira namorada, quando vinha de outra cidade (interior de Minas), não cansava, durante os encontros familiares, de relatar e enaltecer a amizade contigo. Enumerava as aventuras em sua companhia enquanto dedilhava um bem conservado violão. Fanhoso, às vezes se tornava incompreensível. Tinha vergonha do problema na dicção. Isso o irritava e constrangia. Compensava com o talento musical e a sensibilidade de uma artista adormecido, conhecedor da enorme capacidade perceptiva.
Soube também, por notícias via imprensa, de sua entrega ao teatro quando novo. Fez parte de um grupo histórico na cidade, integrado por gente que ganhou notoriedade governamental. Um grupo que te pinçou a vida pública. Não à política. Esta, creio, presente em ti desde quando se entendeu por gente. Acompanhei notícias sobre seu desempenho como parlamentar estadual. As informações sempre destacaram uma honestidade raríssima no meio. Curioso, percebi que ao deixar o mandato não ostentou riqueza. Simples deduzir: não a acumulou, como a maioria, em apenas quatro anos.
Seu nome permeia minha fase adulta. No Rio de Janeiro dividi apartamento com um amigo que se relacionou com sua sobrinha. Ela, também talentosa – e parece coisa de família -, engrossou o coro a enaltecê-lo. É admiradora, fã. Filha do irmão médico, que preferia identificar-se profissionalmente como poeta. E era dos bons. Assim como você, de fino trato com o verbo. Li poemas seus soltos por aí. Certo dia encontrei no supermercado um conhecido, artista plástico. Coincidência ou não, seu amigo e admirador! Mais um para a enorme e incalculável coleção. Destilou maravilhas a seu respeito.
Vi, sim, você. Duas vezes, que me lembre. A primeira na fila do banco, quando estava acompanhado de uma mulher. Talvez a esposa, não posso precisar. Na outra ao volante de um carro estacionado bem em frente a um hospital. Tive vontade de perguntar se precisava de algo. Cansado, vindo do trabalho em outro município cem quilômetros distante, recuei. Resta ler sua página virtual, sempre traduzindo a perspicácia peculiar. Te acompanhar e te curtir, sim. Ainda, por timidez, não te compartilhei. Percebo que elogia duas crianças, imagino seus netos. Então, felicidades! Um abraço.
OBS – Crônica em homenagem a Fernando Leite Fernandes.

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