A UENF,
QUANDO NASCEU, VENCEU A CARIOQUICE
A
Universidade Estadual do Norte Fluminense foi a causa do meu mandato de
deputado estadual, entre 1990 e 1994, do século passado. Fui eleito com esta
missão, uma vez que a grande bancada metropolitana, seguindo lobby da UERJ, fez
constar no texto da lei de meios que se a Universidade não estivesse,
efetivamente, implantada, num prazo de 2 anos, a partir de sua criação, ela
deixaria de existir e a UERJ interiorizaria alguns de seus cursos. Era uma
armadilha, considerando a complexidade de instalação de uma Universidade do
terceiro milênio, erigida sob o conceito do sociólogo Darcy Ribeiro.
A nossa UENF
era a síntese das experiências de Darcy como semeador de Universidades pelo
mundo. Um templo de saber vocacionado para a antiga Capitania de São Tomé, a
porta de entrada para um mundo novo. Era não, é. A crise que assola nossa
Universidade vai deixa-la, ao final, mais robusta, e imune a politicas menores
que, via de regra, colocam o Governo como grande vilão e a Universidade como
vítima, numa relação, absurdamente, beligerante, quando, na essência, são (e
deverão ser) parceiros incondicionais. Sem o governo, inexiste o indispensável
ensino público e gratuito; sem a universidade a administração é um mero modelador
de obras físicas, mas não edifica o futuro.
O tempo
urgia. Já entrava no segundo ano de meu mandato, em 1992, e a UENF enfrentava a monstruosa burocracia
estatal, aliada a carioquice dos deputados do Grande Rio, que, abertamente,
contestavam a criação da nossa Universidade, sob o argumento preconceituoso que
a UERJ bastava e que o interior não tinha necessidade de um Centro de
Conhecimento “desse tamanho”, que sangraria ainda mais a combalida UERJ.
Eu temia
pela sorte da UENF. Os deputados que partilhavam de nosso sonho eram poucos.
Fui a, pelo menos, 3 encontros convidado pela reitoria da UERJ para discutir
sobre a oportunidade da criação da UENF. E em todas as ocasiões lamentei que
pensadores e educadores pudessem achar que universidades eram de menos. Quando
o razoável era que defendessem o contrário. Lembrava-os que nos países
civilizados há universidades ais antigas que o Brasil.
Como a
implantação da UENF corria sério risco, fizemos uma reunião sob a coordenação
do professor Darcy ribeiro, sal e luz da UENF, e decidimos que eu apresentaria
um projeto de lei na ALERJ, criando a FENORTE, a instituição mantenedora da
Universidade, com maior elasticidade e menos burocracia. O projeto teve a
seguinte redação:
“O
GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, Faço saber que a Assembléia Legislativa
do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º -
Fica o Poder Executivo autorizado a instituir, sob a denominação FUNDAÇÃO
ESTADUAL NORTE FLUMINENSE, uma Fundação que se regerá por estatuto aprovado por
decreto.
Art.
2º - A Fundação será uma entidade autônoma e adquirirá personalidade jurídica
de direito privado a partir da inscrição, no Registro Civil das Pessoas
Jurídicas, do seu ato constitutivo, com o qual serão apresentados o Estatuto e
o decreto que o aprovar.
Art.
3º - A Fundação terá por objetivos: 1 - Manter e desenvolver a Universidade
Estadual do Norte Fluminense, instituição de ensino superior, de pesquisa e de
estudo em todos os ramos do saber e de divulgação científica, técnica e
cultural. 2 - Implantar e incrementar o Parque de Alta Tecnologia do Norte
Fluminense, instituição de desenvolvimento tecnológico e industrial,
responsável pela transferência, absorção de novas tecnologias de processo ou
produto. Parágrafo Único - Para a consecução desse objetivo a Fundação poderá:
I - Obter recursos destinados as suas atividades; * Revogado pelo art. 11 da
Lei 2902/98 Controle de Leis II –
(...)Art.
10 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas a Lei nº 1740,
de 08 de novembro de 1990 e demais disposições em contrário. Rio de Janeiro, 10
de dezembro de 1992. LEONEL BRIZOLA Governador”
A partir de
então, foi quebrada a espinha dorsal da burocracia e a Fundação possibilitou a agilidade
necessária para contratação de professores\doutores, importação de maquinário e
a implementação definitiva da Universidade do Norte Fluminense.
Uma
Universidade com esse vigor, filha da vontade popular, não se deixará abater
por uma crise circunstancial. Na UENF, minha senhora, toda hora é aurora.
(FLF)
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