terça-feira, fevereiro 07, 2017

Mussolini, Clara Petacci e mais 17 dirigentes do partido fascista mortos pelos italianos e dependurados de cabeça para baixo em praça pública.



TRATADO GERAL DO ÓDIO

“Enquanto engomo a calça, vou lhe contar” os tempos lá fora são de ódio, como nunca vistos. No rádio, a canção é irascível; na novela das 9h da noite, o ressentimento e a ira permeiam a trama. A mãe é amante do próprio genro, renega os filhos e cuidou para que o marido fosse assassinado, o país se acusa, uma parte de golpista e outra de ladravaz. A morte de uma celebridade política é comemorada, como se fora um gol. Um Estado despoliciado fica á mercê de vândalos que roubam, saqueiam e pilham o comércio amedrontado, como se a ocasião fizesse o ladrão e não, o contrário. “O que será que será?”

O ódio não é o avesso do amor. É sua negação. Porque é a soma de muitos sentimentos subterrâneos, como a inveja, a cobiça e a frustração. O contrário do amor é o desamor.

O ódio mata, mesmo que o algoz ame a vítima.

O ódio viceja como erva daninha, se alimenta com o que o homem tem de pior e fere o semelhante, que se contamina e o reproduz em escala ainda maior. O ódio é um monstro que se retro-alimenta e rasteja sob o sol.

Ele existe desde sempre, suas digitais estão na Bíblia, nos livros sacros de todas as religiões, de tal forma que é possível afirmar que Deus que tudo criou, não extinguiu o ódio porque já o encontrou. O ódio vem de antes de Deus. O ódio dos choques das placas tectônicas; do deserto inclemente, o ódio dos inconfidentes, dos doutores da lei contra o Nazareno, o ódio monumental dos coliseus de antes e da era moderna. O ódio da caverna e da mansão.

Ele está na mão covarde de Caim, na dominação dos povos, na devastação das florestas, na morte indiscriminada dos índios, nos navios negreiros que trouxeram o africano cativo; ele tremula, inútil, nas bandeiras; avança nas fronteiras, nas cercas de arame farpado e se espalha como uma praga entre homens separados por muros, credos, ideologias e falsas convicções.

O ódio com causa acha que se justifica.

O ódio dos holocaustos, dos terroristas do boko haram, do estado islâmico, da al qaeda, o ódio de Israel e da Palestina, o ódio da Casa Branca, o ódio dos imigrantes, o ódio dos bandeirantes de antes e de agora também. O ódio das cruzadas, dos templários, os soldados conquistadores de Deus

O ódio não tem limites, não respeita nada. Estuma cristãos contra cristãos, rodeia todas as religiões e mata em nome de Deus.

São iguais os ódios policial e bandido; capitão do mato e foragido; do bedel e do prisioneiro; do mar bravio e do timoneiro, da vaga que vira o navio impunemente e se espalha mansa na praia depois de promover a tragédia.

O ódio é igual no destinatário e no hospedeiro.

O ódio da seca nos sertões, das volantes no cangaço, dos órfãos de Lampião; o ódio da faca na mão do sicário; da ousadia do canalha. O ódio da navalha que erra a barba e decepa a jugular.

O ódio contido das mulheres subjugadas por seus donos, que por falta de amor, preferem o estupro ao carinho; a bofetada, à delicadeza. O ódio da realeza e o ódio sufocado da plebe rude. O ódio e sua infinitude.

O ódio animalesco aos homossexuais e a falange “dos anormais”.

Mas, sobre todos, o mais terrível é o ódio social, capaz de mover multidões e, como o exército de Átila, levar aos trambolhos, tudo que se postar à sua frente. A sociedade brasileira, historicamente, dominada por elites pérfidas, se descobre atendida, em parte, em cada cortejo de empresários da cobertura do PIB do país e políticos, até ontem, poderosos, levados, de cabeça raspada para os presídios, em espetáculos de mídia. É a nossa versão da guilhotina. O ódio de Estado, dos Poderes, o ódio institucional.

Mas há, e tem que haver, um limite, uma fronteira ética e moral, sem o que, o que era para ser a imprescindível Justiça, se transforme em, irreprimível, vingança cega.


(FLF)

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