sexta-feira, dezembro 23, 2016

NOSSA QUITANDA

Sou só um poeta suburbano, um jornalista solitário que conta com fontes confiáveis e generosas e que exercita o ofício como terapia para enfrentar as mazelas do doutor Parkinson, que me tiraram das redações e dos estúdios de rádio, por onde estive nos últimos 30 anos. Me tiraram das ruas, do ativismo político e das prazerosas caminhadas do centro velho da cidade até minha casa, mas não me tiraram o amor pela vida plena.

Quem vive refém do medo da morte, não vive, espera.

Portanto, este diário eletrônico é vosso, tanto quanto meu. Por aqui, trocamos ideias, discutimos o destino de nossa cidade e de nossa pátria e, na medida do possível, evitamos temas que nos dividam, sem que para tal, tenhamos que abjurar nossas crenças sacras e pagãs.

Não me aventuro em transformá-lo numa plataforma virtual, high tec, anatômica. Não dou conta dessas modernidades psicodélicas. Não quero competições  de quaisquer ordens. Não tenho tempo e nem pacha para isso, como dizia minha mãe.

Esta é minha mala velha de quinquilharias, notícias e outros escritos, que, como os mascates, levo de porta em porta porque sei que a moeda do tempo presente é a informação.

E eu a ofereço aqui, como o pão da manhã.

E propositadamente misturo tudo e faço um caleidoscópio. Aqui, o freguês encontra, modestamente, vento nordeste, chuva e aurora, política provinciana e poesia feita na hora.

Se achegue, a quitanda é vossa!

Todo esse rodeio é para lhe desejar um Santo Natal, um ano novo próspero e lhe agradecer pela companhia diária.

Cordialmente,
Fernando

2 comentários:

  1. Assim escreveu um seu xará:
    "Para ser grande, sê inteiro: nada
    Teu exagera ou exclui.
    Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
    No mínimo que fazes.
    Assim em cada lago a lua toda
    Brilha, porque alta vive."
    Esse, Fernando, é o segredo da excelência dos "produtos" de sua quitanda, da qual sou freguês assíduo. Grato pela generosidade e pelo exemplo de grandiosidade moral. Feliz Natal e um novo ano pleno de prosperidade e coragem.

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  2. Cantares
    Tudo passa e tudo fica
    porém o nosso é passar,
    passar fazendo caminhos
    caminhos sobre o mar

    Nunca persegui a glória
    nem deixar na memória
    dos homens minha canção
    eu amo os mundos sutis
    leves e gentis,
    como bolhas de sabão

    Gosto de ver-los pintar-se
    de sol e graná voar
    abaixo o céu azul, tremer
    subitamente e quebrar-se...

    Nunca persegui a glória

    Caminhante, são tuas pegadas
    o caminho e nada mais;
    caminhante, não há caminho,
    se faz caminho ao andar

    Ao andar se faz caminho
    e ao voltar a vista atrás
    se vê a senda que nunca
    se há de voltar a pisar

    Caminhante não há caminho
    senão há marcas no mar...

    Faz algum tempo neste lugar
    onde hoje os bosques se vestem de espinhos
    se ouviu a voz de um poeta gritar
    "Caminhante não há caminho,
    se faz caminho ao andar"...

    Golpe a golpe, verso a verso...

    Morreu o poeta longe do lar
    cobre-lhe o pó de um país vizinho.
    Ao afastar-se lhe vieram chorar
    "Caminhante não há caminho,
    se faz caminho ao andar..."

    Golpe a golpe, verso a verso...

    Quando o pintassilgo não pode cantar.
    Quando o poeta é um peregrino.
    Quando de nada nos serve rezar.
    "Caminhante não há caminho,
    se faz caminho ao andar..."

    Golpe a golpe, verso a verso.

    Antonio Machado - poeta sevilhano.

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