Sou só um
poeta suburbano, um jornalista solitário que conta com fontes confiáveis e
generosas e que exercita o ofício como terapia para enfrentar as mazelas do
doutor Parkinson, que me tiraram das redações e dos estúdios de rádio, por onde
estive nos últimos 30 anos. Me tiraram das ruas, do ativismo político e das
prazerosas caminhadas do centro velho da cidade até minha casa, mas não me
tiraram o amor pela vida plena.
Quem vive
refém do medo da morte, não vive, espera.
Portanto,
este diário eletrônico é vosso, tanto quanto meu. Por aqui, trocamos ideias,
discutimos o destino de nossa cidade e de nossa pátria e, na medida do
possível, evitamos temas que nos dividam, sem que para tal, tenhamos que
abjurar nossas crenças sacras e pagãs.
Não me
aventuro em transformá-lo numa plataforma virtual, high tec, anatômica. Não dou
conta dessas modernidades psicodélicas. Não quero competições de quaisquer ordens. Não tenho tempo e nem
pacha para isso, como dizia minha mãe.
Esta é minha
mala velha de quinquilharias, notícias e outros escritos, que, como os
mascates, levo de porta em porta porque sei que a moeda do tempo presente é a
informação.
E eu a
ofereço aqui, como o pão da manhã.
E
propositadamente misturo tudo e faço um caleidoscópio. Aqui, o freguês
encontra, modestamente, vento nordeste, chuva e aurora, política provinciana e
poesia feita na hora.
Se achegue,
a quitanda é vossa!
Todo esse
rodeio é para lhe desejar um Santo Natal, um ano novo próspero e lhe agradecer
pela companhia diária.
Cordialmente,
Fernando
Assim escreveu um seu xará:
ResponderExcluir"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."
Esse, Fernando, é o segredo da excelência dos "produtos" de sua quitanda, da qual sou freguês assíduo. Grato pela generosidade e pelo exemplo de grandiosidade moral. Feliz Natal e um novo ano pleno de prosperidade e coragem.
Cantares
ResponderExcluirTudo passa e tudo fica
porém o nosso é passar,
passar fazendo caminhos
caminhos sobre o mar
Nunca persegui a glória
nem deixar na memória
dos homens minha canção
eu amo os mundos sutis
leves e gentis,
como bolhas de sabão
Gosto de ver-los pintar-se
de sol e graná voar
abaixo o céu azul, tremer
subitamente e quebrar-se...
Nunca persegui a glória
Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar
Ao andar se faz caminho
e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se há de voltar a pisar
Caminhante não há caminho
senão há marcas no mar...
Faz algum tempo neste lugar
onde hoje os bosques se vestem de espinhos
se ouviu a voz de um poeta gritar
"Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar"...
Golpe a golpe, verso a verso...
Morreu o poeta longe do lar
cobre-lhe o pó de um país vizinho.
Ao afastar-se lhe vieram chorar
"Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar..."
Golpe a golpe, verso a verso...
Quando o pintassilgo não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino.
Quando de nada nos serve rezar.
"Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar..."
Golpe a golpe, verso a verso.
Antonio Machado - poeta sevilhano.