domingo, setembro 11, 2016

O PRESIDENTE BUSH E O 11 DE SETEMBRO

Veja:



Revista Veja.


A espantosa história do 11 de setembro de George W. BushAs oito horas em que o presidente “desapareceu” no dia trágico, contadas por quem estava com ele.

Por: André Fuentes  11/09/2016 às 13:28

Na pré-história: comunicações no dia do ataque era toscas ou não funcionaram direito


A imagem mais conhecida de George W. Bush no dia em que, há quinze anos, os Estados Unidos foram atacados pelos pilotos-terroristas da Al Qaida,  mostra o presidente americano como um idiota. Ele recebe a notícia de que um segundo avião havia se estilhaçado contra o World Trade Center, em Nova York, e por alguns minutos continua a ser uma história infantil para alunos de uma escola primária na Flórida.
Esta ideia se consolidou nos anos posteriores aos atentados de 11 de setembro de 2001, com as complexas e muitas vezes erradas decisões que Bush tomou, e é completamente equivocada.
Uma espetacular reportagem do jornalista Garrett Graff, publicada no Politico, mostra um Bush  no total controle de seus atos, calmo e equilibrado, embora obviamente fervendo de raiva. De maneiras obviamente diferentes, a fúria era dirigida tanto aos autores dos ataques ainda em andamento, cuja identidade durante várias horas foi desconhecida, quanto dos assessores e agentes do Serviço Secreto que o impediram, durante longas oito horas, de fazer o que mais queria: voltar à capital, Washington, e mostrar a todos, cidadãos e inimigos, que o presidente estava no comando.
A trajetória de Bush naquele dia, voando no Air Force One até que todos os outros aviões sumissem do espaço aéreo americano, sempre foi conhecida, quase em tempo real, inclusive o dois pousos em bases militares. Como as televisões locais, com o país sob um ataque cujas dimensões ainda eram ignoradas, mandavam equipes às imediações das instalações militares mais próximas, o segredo que deveriam cercar o itinerário do presidente nunca existiu.
A reportagem de Graff mostra como sempre é possível escavar mais um pouco acontecimentos que parecem ter sido esgotados, formando um quadro fascinante de relatos e detalhes que vão do histórico ao folclórico.
Na segunda categoria: Ellen Eckert, estenógrafa da Casa Branca que havia embarcado para registrar a desinteressante visita de Bush à escola da Flórida, conta como achava que era a única fumante de todos a bordo do avião presidencial. Na primeira base aérea em que o avião pousou, a de Barksdale, em Lousiana, tirou um cigarro no local permitido e descobriu que praticamente todos os seus acompanhantes também queriam um. Sob pressão de um dia como nenhum outro em suas vidas, todos os ex-fumantes sofreram recaídas.
Outro aspecto paralelo, mas impressionante, era a falta de informações  de jornalistas, tripulantes, equipe de segurança, dois deputados, assessores políticos e demais pessoas a bordo do Air Force One. Quando o avião decolou da Flórida, os dois ataques em Nova York já eram conhecidos.
Mas por dificuldades de comunicação que são quase inacreditáveis hoje, quinze anos depois – uma eternidade tecnológica -, todos a bordo do avião de Bush, inclusive ele próprio, só ficaram sabendo por imagens ruins de televisão da queda das Torres Gêmeas, causada pelo derretimento da estrutura de aço,  e acompanhada ao vivo no mundo inteiro. No avião colocado, por segurança, a excepcionais 15 mil metros de altitude pelo capitão Mark Tillman, só chegavam imagens de televisão das cidades próximas que ele sobrevoava. Chegavam e sumiam.
Também por segurança, as baterias dos celulares, que de qualquer maneira não funcionariam, dos jornalistas haviam sido retiradas. O próprio sistema de comunicação do avião entrou em pane, saturado pelo volume da aviação comercial, sob ordem de pousar todos os aparelhos voadores do país.
No Air Force One,, sobraram duas linhas seguras, uma para o presidente, outra para o seu principal assessor militar. Uma delas foi usada para falar com Vladimir Putin e garantir que todo o sistema bélico americano, colocado em estado de guerra, tinha por objetivo o agressor ainda não conhecido e não o inimigo tradicional contra o qual havia sido criado, desde o tempo da União Soviética. Tradicional e nuclear, com sistemas de reação rápida capazes de levar à destruição total.
“Putin foi fantástico naquele dia”, contou o secretário de Imprensa de Bush, Ari Fleischer, explicando como o presidente russo entendeu perfeitamente o que estava acontecendo. “Vladimir Putin era diferente  em 2001. Não poderíamos ter tido um aliado melhor do que Putin e a Rússia no 11 de Setembro.”
Pela mesma linha telefônica segura, Bush conseguiu falar pela primeira vez com seu vice, Dick Cheney, levado para o bunker subterrâneo da Casa Branca. O assessor Karl Rove, futuro e nem sempre bem sucedido especialista eleitoral, conta que ele e o chefe de gabinete Andy Carr, testemunharam o telefonema.
Bush disse “sim” duas vezes e, depois de um tempo que eles não se lembram se foram segundos ou minutos, confirmou: “Você tem minha autorização.” Quando desligou, voltou-se para os assessores e disse que havia acabado de autorizar que outros aviões sequestrados que ainda estivessem no ar fossem derrubados por caças da Força Aérea. Ou seja, pilotos americanos iriam matar cidadãos americanos para impedir ataques maiores.
Muito atacado por ter prestado serviço na Guarda Nacional na época da Guerra do Vietnã, Bush lembrou que tinha sido piloto. Naquele momento, eram pilotos dessa mesma força que ele estava autorizando a derrubar aviões de passageiros. “Não consigo imaginar receber uma ordem assim”, foi seu comentário.
Relatos assim, simples e diretos, abrem janelas para entender as muitas dimensões de uma história cujos desdobramentos o mundo ainda está vivendo. Captá-la em todas as suas complexidades é uma tarefa constante para os que pretendem pelo menos tentar fugir das ideias feitas.

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