quinta-feira, agosto 04, 2016

MARATONISTA DE CAMPOS EXIGE MEDALHA DE OURO

MARATONISTA DE CAMPOS EXIGE MEDALHA DE OURO

Meu nome é Luana Leal Barbosa, tenho DOIS anos e moro na localidade de Fazendinha, em Campos. Sou filha única de uma família muito, muito, muito humilde. Quando eu tinha UM ano, surgiu um caroço, um nódulo, em minha coxa direita. Enquanto eu e minha mãe peregrinávamos pelas unidades de saúde da rede pública do município, o tumor crescia, crescia.

Eu precisava de um diagnóstico. Diagnóstico? Onde? Quando? Um pediatra da APIC solicitou uma Ultrassonografia. Ultrassonografia? Onde? Como? Quando? O tempo passava e o tumor crescendo. E a Ultrassonografia? Nada. Consegui! É que alguns amigos pagaram e fiz numa clínica particular. De volta à APIC, com o exame em mãos, o pediatra pede “parecer” do ortopedista. Ortopedista? Onde? Preocupados, meus amigos recorreram aos seus amigos e me conduziram a um Oncologista particular também. “Caso para internação urgente”, foi seu parecer. Internação? Onde? De novo, entrou em ação minha rede de amigos, que chegou ao P.U. de Guarus, de onde partiria minha solicitação de internação. Ali fiquei com a guia na mão. Ir para o hospital ? Não há vagas! As pessoas passam dias, muitos dias naquele P.U. aguardando vagas em hospitais.

Depois de frustrados todos os esforços junto a SMS, um amigo bateu à porta da casa da prefeita, na rua Saturnino Braga, na Lapa. Recebido por uma das secretárias executivas, foi lembrado que ALI NÃO ERA A SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE ! Ele insistiu, rogou, suplicou! Então, ela ligou pra lá, ligou pra cá, conseguindo minha internação para o Hospital dos Plantadores de Cana. O HPC pediu uma ressonância. Ressonância? Onde? Como? Quando? Estive no HPC por longos 15 dias! E o exame? Nada! Nesse período vi crianças, muitas crianças que aguardavam exames, serem liberados do hospital. Lembro de um menininho, da minha idade, que tinha um tumor na cabeça. O tumor crescera tanto, que já estava expulsando um de seus olhos, uma cena chocante!

Não havia previsão de realização dos exames! Só não recebi alta também porque meus amigos pressionavam dioturnamente o hospital. E meu tumor crescendo. Até que um amigo foi pra frente de uma certa Rádio, esperar o Secretário de Governo terminar seu programa diário e lhe pediu encarecidamente que viabilizasse a ressonância. Ainda assim, com suas ordens expressas, se passaram alguns dias. Mas finalmente veio o diagnóstico: NEOPLASIA MALIGNA! Meus amigos intensificaram seus labores até me removerem para o INCA, no Rio de Janeiro. Operei a perna, fiz bastante químio e radioterapia, mas infelizmente, meu câncer se espalhou pelo meu corpo, trata-se de uma metástase. Há um ano minha rotina é do INCA para a Casa Ronald MacDonalds, onde estou hospedada, e vice versa.

De vez em quando o INCA sugere que eu vá à minha casa, em Campos. Manda e mail para a SMS da PMCG solicitando uma condução. É um suplício. Meus amigos precisam ir à SMS pessoalmente cobrar, discutir, ouvir desaforos. Geralmente as viagens são extenuantes, longas demais, tem superlotações e veículos inapropriados. Há alguns meses, aguardo vaga na UTI do INCA para cirurgia dos pulmões! Eu não hesitaria em trocar esta “Festa dos Deuses”, as Olimpíadas Rio 2016, por tomógrafos, leitos, leitos em UTI, médicos e enfermeiros. A vida das crianças pobres do Brasil já é uma maratona, uma olimpíada. A gente tem que vencer discriminação, descaso, Zica, Dengue, Chicungunya, H1N1. Chegamos ao limite do suportável para encontrar moradia, atendimento médico hospitalar, escola que funcione de fato e comida.

Por favor, minha medalha!

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