domingo, junho 05, 2016

PARA GERALDO GAMBOA COM AFETO E ADMIRAÇÃO





Geraldo Gamboa virou lenda.

Um alfaiate de profissão, um compositor refinado, pobre, negro e comunista. Tudo isso em São Salvador dos Campos, uma vila que se originou da Capitania de São Tomé, curral das tradições mais ferrenhas do conservadorismo politico, social e religioso. Território inóspito para um homem com a cabeça e a lucidez de Gamboa. Um gigante do samba, da mesma estatura de Cartola, de Nelson Cavaquinho , de Noel, com diferença, apenas e tão sómente, geográfica. Os bambas cariocas brilhavam na capital, Gamboa tinha que se virar ao avesso pra levar pra casa, no final do dia, "uma nota de cem. Ou mal ou bem". E o sacrifício e a dor viravam samba. De primeira! Por muito menos, Wilson Batista se picou pro Rio de Janeiro.

Geraldo Gamboa leu muita coisa, leu autores brasileiros, leu romancistas, leu O Capital, mas tinha preferência pelos escritos de Wladimir Ilich Lenin, livro que, de vez em quando, vagava com ele pelo Boulevard. Sempre foi um militante da causa socialista, um poeta popular engajado, um operário na sonhadora construção de um tempo novo, justo, generoso e feliz.

Gamboa padece, amarga uma velhice pobre e o velho combatente da alegria geral, hoje, precisa de cuidados e tratamento, uma vez que sua saúde é precária, seus recursos são parcos e a precisão é grande.

Geraldo Gamboa mantem-se retilíniamente digno. Reclama da "gripe" que o levou pra cama, em seu quarto minúsculo, sob uma janela, que até pouco tempo, era improvisada num lençol. Hoje, está diferente, graças à ação de seus amigos. Os governos e as instituições públicas não são obrigadas a socorrer o Sambista da Velha Guarda. Ou são? O governo municipal, por exemplo,  sabe de sua grandeza, de seu talento visceral, tanto é que usou sua imagem para o filme publicitário que apresentava o Cepop. Ninguém mais, entre nós, tinha perfil para iluminar a passarela de concreto do samba. Tinha que ser ele, com a carga histórica que tem.

O bamba campista vem sendo cuidado por sua família e por um grupo de pessoas que reconhecem sua inestimável, incomensurável contribuição para a Cultura.

O bravo combatente viveu, criou, deu lições e resistiu, com valentia ao ocaso de sua jornada.  Ao final, quedou-se, como os grandes, em silêncio. Cravou seu nome na história, com talento e grandeza.

Viva Gamboa!

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