ANTONIO SCORZA / Fotos de Antonio Scorza |
Outrora vivendo um momento de bonança com o anúncio de investimentos
bilionários na construção do Complexo Petroquímico da Petrobras, Itaboraí vive
uma fase de apreensão, desemprego e frustração. Com o atraso nas obras do
Comperj, projetos já concluídos estão longe de obter o lucro previsto. São
prédios comerciais, hotéis, shoppings e outros empreendimentos erguidos para
atender a demanda prevista com o polo da estatal. A população local teme que a
situação traga, no lugar do vigor econômico, desemprego, favelização e
violência.
No Norte Fluminense, Macaé enfrenta dias de apreensão. A economia da
cidade vive majoritariamente do petróleo e já mostra reflexos da crise da
Petrobras em diversos setores, diz o prefeito Aluízio dos Santos Júnior:
- Quase 100% da economia de Macaé vêm do petróleo. Dos empregos formais,
63% estão ligados ao setor. A indústria parou, as empresas estão demitindo, as
vendas do comércio caíram.
Ele destaca que Macaé encerra o ano com resultado negativo no mercado de
trabalho do petróleo, com 4.600 demissões, ante 4.330 contratações:
- No petróleo, concorremos com o mercado internacional. E as grandes
multinacionais estão ansiosas com a situação, tendo perdas. A situação da
Petrobras, com o problema no cenário mundial, pode afugentar empresas e
investimentos.
Em Itaboraí, a temida carta de demissão já é uma realidade nas mãos de
trabalhadores de empresas terceirizadas pela Petrobras e que realizam parte das
obras do Comperj, que chegou a ser vendido como um dos maiores complexos
petroquímicos do mundo, com investimentos previstos de US$ 13,5 bilhões, ou
cerca de R$ 35 bilhões com o dólar na casa dos R$ 2,60.
- Somos um eldorado sem ouro - sintetiza Mário Ribeiro, gestor predial
em Itaboraí.
No setor hoteleiro, a crise é visível. O hotel Ibis Itaboraí, da rede
Accor, completará dois anos em maio de 2015. A ocupação média de 2014 não deve
passar de 42%, muito aquém da meta de 75%.
- Temos 180 quartos, mas apenas 54 são ocupados por dia, em média. O
grande "x" da questão é o polo petroquímico. Até agora não atraiu
investimentos e negócios como esperávamos. E tememos pelos cortes de
investimento em 2015, ainda mais que outros três hotéis devem abrir na cidade -
informou Ary Comar, gerente do empreendimento.
IMÓVEIS ENCALHADOS
O aproveitamento de hotéis de Itaboraí e Macaé caiu perto de 15% ao
longo do ano. Até na capital fluminense houve retração, diz Alfredo Lopes,
presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio (ABIH-RJ):
- A retração é a ponta do iceberg. Nos hotéis do Centro do Rio, as
reservas feitas pela Petrobras caíram mais de 30%. Em 2015, as taxas devem
piorar. O Rio pode ser poupado por contar com obras públicas, preparativos para
a Rio 2016 e eventos. Mas, de modo geral, haverá perda.
A corretora de imóveis Valdinéia Dias da Silva, há 23 anos no mercado de
Itaboraí, afirma que os preços estão caindo na cidade. Após uma bolha com o
anúncio do Comperj, quando um imóvel de R$ 100 mil foi vendido por R$ 1 milhão,
os preços caíram, e casas dessa categoria agora são comercializadas por R$ 400
mil.
- Muita gente está com imóvel encalhado, mas não dá para dizer que está
tudo parado. Quem baixa os preços vende. Mas sabemos de problemas. Alguns
alojamentos (de trabalhadores) nunca lotaram, estão operando com 40% de
ocupação e o preço da cama está em R$ 20 a diária. Um quarto com quatro camas
já sai por R$ 60 - disse.
E a ocupação deve diminuir. No Alojamento Apoio, o clima era de
apreensão: a todo momento, chegavam peões com a carta de demissão na mão.
Edilson Justino Martins, o Canela, demitido na terça-feira pela Toshiba, acha
que a situação está piorando por causa das denúncias de corrupção.
- Trabalhei três anos como montador em Abreu e Lima (PE) e a gente
ganhava muito mais lá, R$ 2.700 mais o "Fome Zero" (tíquete
alimentação) de R$ 700. Aqui, o salário estava em R$ 2.400 e agora deve baixar
mais, pois a empresa precisa entregar a obra em maio, mas certamente vai
terceirizar - disse.
O pernambucano Alex Jardim Rodrigues tentava se consolar:
- Pelo menos, volto mais cedo para passar o Natal em casa. Sem dinheiro,
mas em casa.
As demissões e o medo de novas dispensas já afetam o Natal da cidade. Na
loja popular Objetiva, que vende roupas no centro de Itaboraí, as vendas de
dezembro estão 50% inferiores às do mesmo mês do ano passado.
- O fim de ano está bem diferente dos anteriores. Não é algo da nossa
loja, é geral, em toda a cidade. Se a situação piorar teremos que demitir
funcionários, mas, graças a Deus, ainda não precisamos fazer isso - disse o
gerente Paulo Roberto Ribeiro.
Rosy Gomes, nascida em Itaboraí, conta que o clima de medo domina a
cidade. Com 46 anos, ela viu nos últimos meses 15 funcionários da empresa onde
trabalha, uma firma de alimentação para operários, serem demitidos. Agora, há
boato de que novas dispensas vão ocorrer entre os 50 trabalhadores que
restaram:
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- A gente está com medo de a crise voltar. E ainda temos o medo do que
esse povo todo vai fazer aqui em Itaboraí. A cidade cresceu muito nos últimos
anos, começamos a ter mais problemas de trânsito, de violência.
O Shopping Itaboraí Plaza, em construção às margens da BR-101, mantém o
clima de otimismo. O primeiro shopping da cidade está quase pronto, mas
atrasado. Com 170 lojas, cinema, dois prédios comerciais e um hotel, deve ser
inaugurado no fim de fevereiro. Segundo Sandra Lima, gerente de Marketing e
Comercial do shopping, o projeto não depende do Comperj:
- Há demanda na região e não há ofertas de produtos e serviços. O
shopping mais próximo fica em São Gonçalo.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/itaborai-macae-sofrem-com-perdas-no-setor-de-petroleo-14889429#ixzz3MXe7GfvV
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