quarta-feira, agosto 24, 2011

SAUDADES DE OSÓRIO PEIXOTO

Osório Peixoto acaba virando nome de rua qualquer dia desses, agora que está encantado.
Se isso acontecer me jogo na luta, com armas e letras e vou logo avisando que sou contra.

Osório não é nome de rua, Osório é nome de mar. Porque o mar é largo a perder de vista, o mar visita países, banha ricos e pobres com a mesma generosidade, tem seus mistérios, suas correntes e repete, com suas ondas, a metáfora do infinito, exatamente como a poesia de Osório.

Aliás, olha a poesia de Osório de novo, novinha quando julgamos, ingenuamente, que sua mina estava seca.
Ele surge agora como inventor de um Rio de Janeiro, soberano, boêmio, resguardado dos sustos das metrópoles concretas, sem alma e sem flor.

A poesia latente de Osório afaga o malandro carioca e, incansável, vagueia pelas ruelas da capital, recolhendo meninos pela mão para livrá-los da sentença de morte anunciada.

Ah, a poesia de Osório e sua rebeldia atávica, quando a força exige que ela seja uma flauta doce, inofensiva, ela range o seu arado, fende a terra, vira raivosa e bela canção agrária.

O livro novo de Osório é, sobretudo, uma notícia alvissareira. Há algum tempo, surgiram rumores sobre seu paradeiro. 

Chegaram a dizer que ele havia picado a mula e houve quem jurasse tê-lo visto nos arredores de uma vila brasileira, dono de bodega de sortidos, com variada coleção de cachaça de rolha. Tudo invenção.

O poeta aninhou-se numa cama de nuvens, preguiçoso. Sua poesia não descansa, não arria suas ferramentas.
Amanhece, luminosa, todo dia.

Fernando Leite Fernandes

(Prefacio do livro Poemas de Osório e seu olhar sobre o Rio)

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