Morreu Severino Veloso de Carvalho Neto. Não morreu só o Homem, morreu uma forja. A forja que produz à suadas marretadas espadas sacras já não existe mais, infelizmente. Severino não era um homem fácil, nem podia ser. Seu caráter foi moldado a ferro e fogo. Desconheço, mas admiro a origem. Tive a honra de privar sua amizade e tive a honra de privar o carinho dos seus filhos e netos. Honra que, creio, jamais poderei retribuir. Conheci Severino há poucos anos, mas a empatia foi quase imediata. Nobre, guerreiro invencível daqueles que são impossíveis de serem debelados por simplesmente carregar na alma uma indestrutibilidade insana, ele era sempre de aço nas suas convicções. Não tinha mais ou menos. Severino era tudo ou nada, geralmente tudo.
A Marcos e Valéria fica a tristeza, a saudade, mas espero, a certeza que tiveram um pai inigualável. Não, Severino não devia ser um pai fácil. Nem um avô fácil. Nem Marido, Namorado ou qualquer papel por ele desempenhado devia ser fácil no trato, mas sim reto e difícil. Os grandes homens não são fáceis.
No meio da luta pela vida, ele só mirava o pensamento na batalha vindoura, nos descaminhos a serem retificados, na correção do que estava errado. Não existia “eu”, só “a classe”, “o setor”, “a cidade”, Um altruísta degenerado. Um obcecado pela “rés-pública”.
Severino era um “cabrunco”. Ruim de encarar. Brigador até as últimas conseqüências. Um guerreiro contra os desmandos. Um amigo que eu amava.
Nesta cidade era para mim uma referência de retidão, altruísmo e coragem. O tinha como um avô de criação, embora não tenha tido intimidade com a sua família nem o abençoado cotidiano com aquele “velho rusguento”.
Chorando sozinho no colo da minha mulher depois do enterro, em casa, com uma saudade danada, me restou nada mais a não ser escrever essas mal traçadas linhas.
Que a família dele me perdoe por tomar assim um sentimento de parentesco sem ter sido. Uma filiação sem firma reconhecida. Um amor sem história.
E que os homens públicos de hoje olhem para o passado e tentem refazer a forja incandescente que moldava espadas sacras. E não se contentem com canivetes e adagas.
Um beijo Severino
Do grande amigo,
Jayme Vasconcellos
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião