segunda-feira, setembro 25, 2017

CAMPOS AINDA COMEMORA VOLTA DO GOITACAZ À PRIMEIRA DIVISÃO

O Dia



Felipe Sáles, especial para o Extra
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O último dia 16 foi de maldade. Dia de o Goytacaz, time da cidade de Campos, no Norte Fluminense, marcar aos 44 minutos do segundo tempo contra o arquirrival Americano, garantindo o retorno à elite do Carioca após 25 anos. Nesta terça-feira o clube ainda disputa a primeira partida da final da Segundona contra o América, mas difícil é conter a euforia de uma torcida que ajudou até a pagar o salário dos jogadores 13 dias antes do histórico confronto.
O churrasco beneficente na sede, ao custo de R$ 20, deu direito não apenas a uma porção de carne com molho e farofa. Com os R$ 9.195,00 arrecadados, o clube pôde pagar, por exemplo, o salário de R$ 1 mil de Lukinha, cria da base e herói da classificação.
A festa ainda reverbera nas esquinas da cidade, mas virou um Carnaval no fim de semana diante de carreatas e ruas fechadas por torcida e jogadores. Após o jogo, os atletas saíram de Nova Friburgo direto para a Rua do Gás, na sede do Goyta, mas Lukinha mal conseguiu descer do ônibus: foi carregado de mão em mão como se fosse um troféu.
– Essa união me deixa arrepiado – contou o atacante de 20 anos, que até o ano passado era assistente de pedreiro em Travessão, distrito a 20 quilômetros do Centro de Campos. – A bola pegou meio no tornozelo, meio na canela. Foi o chute errado mais certo da minha vida.
Mais que isso, foi uma redenção além do futebol para a família Riscado Filho. Neto de um dos presidentes do clube nos anos 80, Betinho, de 26 anos, preparava uma surpresa ao pai e ao irmão mais velho. Mas no fim do jogo, já sem esperanças, o grupo se dissipou. Até a canelada de Lukinha provocar o choro compulsivo de Betinho junto a uma camisa com o rosto do irmão do meio, Fábio, vítima de hipertensão pulmonar aos 26 anos na Copa de 2014.
– Fábio foi apaixonado até o fim: deu camisas do Goyta aos médicos e foi enterrado com a bandeira. Não podia faltar àquele momento – lembrou. – Quando reencontrei meu pai e meu irmão, eles choravam embaixo da arquibancada. Quando nos viram, choramos mais ainda.
Aluízio de Freitas, 51, chorou deitado sobre a arquibancada, mas ganhou também um problema. Durante a comemoração madrugada adentro, recebeu uma mensagem da patroa.
– Ela disse: “não aguento mais, quando não está no trabalho está com o Goytacaz!” – riu. – Mas ela me conheceu assim, ué. Minha única diversão é o Goyta.
Torcedor ilustre, Carlos Augusto Paes Rangel, o Pisa na Barata, 70, é presidente do Pisa Show, charanga oficial do clube há 28 anos. Depois de acompanhar o time até o Pará, numa viagem que durou seis dias, ele se aposenta da organizada com o dever cumprido. Outra referência é o ator Tonico Pereira que, nervoso, enviava mensagens a Pisa antes, durante e depois do jogo.
— Ficamos no “quase” muitas vezes, mas acabou essa história. O Goyta é povão, e agora o povão está feliz — festejou Tonico.
O jogo acabou, mas a guerra com o rival continua
Após amargar a maior série de derrotas para o rival desde 1964, o Americano tem outras complicações. Sem estádio, o Alvinegro não pisará mais no Aryzão, campo do Goytacaz e único de Campos, de acordo com o desejo – e a fúria – do presidente do alvianil, Dartagnam Fernandes.
– Foi uma covardia levarem o Goyta-Cano mais importante da história para Friburgo. O batalhão da PM fica a 50 metros do estádio. O gramado pode não ser perfeito, mas é assim para os dois times, e serviu a eles durante toda a temporada. Agora se virem – disparou.
Presidente do Americano, Carlos Abreu defendeu o seu direito de exercer o mando de campo.
– Tivemos dois dirigentes agredidos com socos. Imagine se um clássico dessa magnitude tivesse acontecido no Aryzão, onde não há sequer divisão para torcida e dirigente? – E concluiu: – Tenho certeza que não faltará lugar para o Americano jogar, pois honramos compromissos. Como também não tenho dúvida de que nosso aluguel fará falta a eles.
O clássico, agora, continua nos tribunais depois de dirigentes dos dois clubes trocarem “gentilezas” na imprensa. Realizado desde 1914, o Goyta-Cano é considerado o maior clássico do interior do Rio, uma rivalidade acirrada nas últimas décadas: Eduardo “Caixa D’Água” Vianna, ex-presidente da Ferj e torcedor do Americano, era acusado de beneficiar o alvinegro e de prejudicar o rival. As equipes já se enfrentaram em competições nacionais, mas desde 2012 são adversárias apenas na Segundona. Os clubes já revelaram talentos como Acácio, Amarildo, o Possesso, e Didi, um dos maiores meio-campistas da seleção.

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