Essa estória
que o Brasil mudou e que aquela máxima, segundo a qual, cadeia era só para
pobre e preto nessa pátria desigual, é uma meia verdade. É, mas não é como
deveria ser, mesmo considerando que colarinhos brancos e pés calçados com
sapatos Christian Loubotin, estão atrás das grades. Que grades chéri?
Os notórios
larápios, ladrões por ganância, pois já eram ricos, rapineiros do dinheiro
público, dinheiro dos hospitais sucateados, da escola que deforma, das estradas
assassinas, da polícia violenta e violentada, das crianças brincando de
criminosas, dinheiro dos servidores públicos, dinheiro que o povo paga pra
nascer, viver e morrer, foram presos “mais ou menos”.
Isso foi o
bastante para os críticos mais ansiosos e menos argutos identificarem um rumo
novo no curso da carroça da história.
Levados para
galerias especiais, capitães do PIB, medalhões do mundo político, autoridades
condecoradas são condenados a largas penas, mas, com o instituto da delação
premiada, cumprem regimes fechados relâmpagos. Encenam o espetáculo cartártico,
a mídia destaca o vigor da justiça, mas logo, logo vão para prisão mansão
domiciliar, nos condomínios de luxo, nas casas castelares. Para os pobres tudo
continua desigual. É como diz O Rappa “todo camburão tem um pouco de navio
negreiro”.
É a lei
frouxa, formulada à conveniência da elite mais perversa do mundo. O passado
fala por nós. No conjunto das nações, fomos nós, os últimos a abolir a
escravidão. Na Ilha de Vera Cruz, a plebe rude come o jiló que o diabo plantou,
mas descarrega sua inquietude na esbórnia do carnaval.
E não é só a
caterva política que se auto-potege não. O Código Penal brasileiro kafkaniano, é
generoso com os inquilinos ilustres das coberturas da pirâmide social. Os
crimes mais bárbaros, punidos com a reconhecida brandura da lei, ainda por
cima, prescrevem rápido na memória pública.
Três
exemplos que causaram revolta surda na sociedade impassível e impotente.
O médico
geneticista, Abdelmassih, que cometeu mais de 40 estupros em mulheres que o
procuravam para tratamento para engravidar e pagavam caro por isso, condenado a
quase 200 anos de prisão, chegou a ficar uma semana em casa, com menos de 3
anos de reclusão. Por mais que isso nos sufoque de indignação, é,
absolutamente, legal, Aderbal.
O casal
Alexandre Nardoni e Ana Jatobá, condenado pelo assassinato da pequena Isabela,
se prepara para voltar às ruas. Ana já passou pelos laudos psicológicos e
psiquiatras que a credenciam à liberdade, qualificando-a de lúcida e incapaz de
voltar a cometer crimes. Ela se prepara para montar sua confecção e entrar no
mercado fashion.
Suzane
Richtofen já está liberada para o regime semi-aberto. Apareceu na tela da TV,
sorridente e anunciou que vai se casar. No mesmo período, seu irmão, Andreas,
sobrevivente do plano que Suzane executou com seu namorado e cunhado,
assassinando seus pais enquanto dormiam, foi encontrado nas ruas, visivelmente,
perturbado. Os pais foram mortos, Suzane, aparentemente, carpiu sua culpa
oceânica e restou a punição mais dolorosa para Andreas.
Enfim, o
código penal brasileiro, quase octogenário, não está à altura dos crimes, no
Brasil.
(FLF)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião