sábado, setembro 10, 2016

CRISE NAS PESQUISAS: PREVER ELEIÇÕES ESTÁ CADA VEZ MAIS DIFÍCIL

Veja:


A campanha eleitoral nos Estados Unidos está entrando em sua reta final para decidir sobre quem irá ocupar o lugar de Barack Obama na Casa Branca. Os prognósticos  sobre o futuro vencedor mudam ao sabor dos ventos. Na mesma semana, é possível encontrar pesquisas com números tão diferentes que é difícil saber quem estará certo em 8 de novembro. Desde o início do ano, tanto Hillary Clinton quanto Donald Trump já ocuparam o topo na preferência popular e, em certas ocasiões, apareceram virtualmente empatados. A imprevisibilidade trouxe à tona uma nova questão: ainda é possível confiar nas pesquisas eleitorais?
“Sim, está cada vez mais difícil prever uma eleição”, confirma Clifford Young, presidente do Instituto Ipsos nos Estados Unidos, que conduz uma das pesquisas eleitorais mais importantes do país, em parceria com a agênciaReuters. Segundo Young, a crise nas pesquisas não é apenas americana, mas mundial, e tem origem em uma série de fatores que exigem cada vez mais esforço (e dinheiro) para prever resultados. Os motivos vão desde a transição de métodos tradicionais para versões on-line, até o cenário de incerteza política que cresce no país, com candidatos fora do padrão político tradicional, como Trump, ganhando espaço.
Pelos menos nos últimos 30 anos, de acordo com Young, o telefone fixo era o “padrão de ouro” das pesquisas eleitorais. Era a forma mais óbvia e conveniente de comunicação, além de permitir encontrar quase qualquer pessoa nos Estados Unidos — país de dimensões continentais que já chegou a ter, na década de 90 e anos 2000, cerca de 90% de seus lares com uma ou mais linhas de telefone fixo. Nos últimos anos, porém, cresce o número de casas que não possuem uma linha fixa — hoje cerca de 50% das casas possuem telefone fixo, mas o número está em queda vertiginosa desde 2004.
Para dificultar, uma lei americana de Proteção ao Consumidor de Telefonia proíbe que sejam feitas ligações “automáticas”, por meio de robôs e gravações, para telefones celulares. Ou seja, um levantamento apenas com chamadas para celular exige gastos astronômicos com funcionários, do contrário, atinge um número menor de pessoas, não acompanha a rápida mudança no cenário eleitoral e não reflete a realidade do país.
Mesmo duvidosas, por ainda não terem sido muito testadas e estudadas, as pesquisas on-line ganharam espaço. As vantagens incluem o gasto reduzido, de cinco a sete vezes menor, e amostras maiores, que ajudam a prever como os candidatos se sairão em cada Estado, importante para o sistema de voto proporcional dos Estados Unidos. Por outro lado, ainda se sabe pouco sobre a sua eficácia e como o método afeta os resultados. “Está ficando quase inviável fazer uma pesquisa eleitoral”, afirma Young. Há um impasse: pesquisas caras e difíceis, ou baratas e incertas.
No referendo para decidir se o Reino Unido sairia da União Europeia, de acordo com o site especializado YouGov, os levantamentos por telefone mostravam um empate, enquanto as pesquisas virtuais davam vantagem de 15% para a permanência. “As pesquisas telefônicas tendem um público diferente, com alta presença de minorias e idosos. Já os levantamentos on-line pegam mais jovens e trabalhadores que passam o dia fora de suas casas”, explica Young. “Todo o esforço nos institutos de pesquisa é para tentar corrigir esse viés de cobertura”.

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