quarta-feira, abril 27, 2016

APÓS A ANGÚTIA DE UM DIA INTEIRO, INATIVOS DO ESTADO RECEBEM SALÁRIOS

EXTRA:



Pollyanna Brêtas e Rafaella Barros
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A expectativa de 137 mil aposentados e pensionistas do estado de receber o pagamento atrasado provocou uma corrida aos bancos ontem, mas só se concretizou após a prisão da gerente de uma agência do Banco do Brasil. A funcionária foi levada à 5ºDP (Mem de Sá) por um oficial de Justiça por desobediência à decisão do juiz Felipe Pinelli, da 10ª Vara de Fazenda, de arresto das contas do estado no valor de R$ 648.724.494,79. O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal tinham que repassar o dinheiro do Estado para o Bradesco poder depositar os salários. O Banco do Brasil pediu à Justiça que reconsiderasse a decisão, já que o dinheiro não poderia ser liberado para o pagamento deste tipo de despesa. O pedido foi negado.
Devido ao impasse, os salários só começaram a ser depositados ontem, após o fim do expediente bancário, mas apenas para contas do Bradesco. Correntistas de outros bancos só receberão hoje.
Mário precisou recorrer aos dois filhos para pagar as contas
Mário precisou recorrer aos dois filhos para pagar as contas Foto: Urbano Erbiste / Extra
O coronel da PM reformado Mário Augusto Leitão Filho, de 73 anos, foi várias vezes checar se o salário havia sido depositado. Apenas às 18h30m, ele viu o dinheiro na conta, numa agência do Bradesco no Méier, na Zona Norte.
— Agora, vou pagar os meus filhos. Quem está segurando a onda são eles. Se não fosse por eles, acho que eu teria que colocar a farda de coronel e vender ovos na feira — disse o aposentado, numa referência ao bombeiro reformado que vendeu ovos em uma feira, em Belford Roxo.
Desconto no salário e ainda multa por calote do Estado
Enquanto o governo deixa Mário entregue à própria sorte, ele ainda vê descontados 11% da sua remuneração, que vão para o Rioprevidência, e cobrança de multas em seus empréstimos consignados que teriam que ser pagas pelo governo.
— Esse empréstimo consignado aqui, por exemplo, descontado em folha, tem duas multas por atraso no total de R$ 294. Liguei para o banco para perguntar o que era e eles falaram que é porque o Estado não repassa o pagamento — conta Mário.
Depois de 32 anos de serviço na Polícia Militar e, até agora, mais 27 anos de aposentadoria, o morador do Méier conta que jamais esperaria ter que depender dos filhos para comer e pagar contas como água, luz e telefone.
— É um momento realmente estranho. Nós já estávamos acostumados a entrar no site do Rioprevidência ou da Seplag e ter o calendário de pagamento do ano inteiro. Então, você organizava a sua vida — avalia.
Gumercindo foi três vezes ao banco e nada do pagamento
Gumercindo foi três vezes ao banco e nada do pagamento Foto: Urbano Erbiste / Extra
DEPOIMENTO: Gumercindo Melo - Professor de História aposentado, 69 anos
“Acabei de ver a conta e o salário não caiu ainda. É a terceira vez que eu venho. Eu só tenho condições de pagar as minhas contas porque eu tenho outra renda. Tenho duas aposentadorias: uma pelo Estado e outra do município. Mas, se demorar muito a entrar o salário, a minha situação vai piorar... Não estou com as contas atrasadas, mas eu tinha até um investimento programado, com o dinheiro da aposentadoria do Estado, e tive que adiar a aplicação por causa do que está acontecendo. Eu trabalhei por 35 anos como professor de História e me aposentei há dois anos, porque quis. Uma coisa é certa: isso nunca aconteceu antes. Nem na época do Sarney, com aquela inflação toda. Nunca vi uma pontualidade tão grande como o do funcionário público. Agora, os governantes estão se comportando como vândalos. São vândalos de gabinete”.
OUTROS DEPOIMENTOS: O desespero de quem espera o salário
“Eu vim ao banco ver se o Estado fez a parte dele. Eu fiz a minha por 38 anos. Acabei de ver a conta e não recebi (às 15h30m). Eu não sei o que vai acontecer. Fica difícil você acreditar em uma instituição que não cumpre o que diz. Isso foi uma determinação judicial e, mesmo assim, o dinheiro não caiu na conta. É uma calamidade” - Carlos, clínico geral aposentado, 66 anos
“Sou pensionista do Estado e também professora aposentada pelo município. Mas não dá para ficar esperando. Sou hipertensa e tenho problema na coluna. Com a aposentadoria, paguei as principais contas. Mas estou esperando o dinheiro do Estado cair para eu fazer compras. Estou sem comida dentro de casa. É um absurdo”, X. Pensionista, 70 anos
“Minha conta é do Itaú. Até agora (20h34m), o salário não entrou. É humilhante. O meu filho tinha vendido um carro dele e eu falei “me empresta um dinheiro para eu poder arcar com as minhas responsabilidades”. Eu fiquei tetraplégico em 1990, ao tomar um tiro no pescoço, num tiroteio em Volta Redonda. Gasto R$ 800 por mês só com medicamentos” - Marcos Antônio Barros, PM aposentado por invalidez, 51 anos

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