segunda-feira, novembro 30, 2015

MORADORES NA LUTA PELA RECUPERAÇÃO DO HORTO MUNICIPAL

Prezado Fernando Leite
A comissão de moradores e amigos do Horto considerou que se torna necessário manter a população de Campos melhor informada sobre o andamento das denúncias feitas no MPE, sobre a cessão de parte do Horto para uso pela EMEC. Subscrevem este texto as pessoas citadas abaixo. Como alguns têm receio de retaliação pela Prefeitura, pedimos a não publicação dos nomes.  Caso necessário, podem ser fornecidos os números de telefone para conferencia das adesões. 

EMEC Atuava no Horto de Campos Sem Licença Ambiental e Alvará.

Prefeitura Pode ter Cometido Dupla Improbidade Administrativa

No começo deste ano, o Ministério Público do Estado abriu o inquérito de

número 013/2015 para investigar supostas irregularidades cometidas na

cessão provisória de um espaço de cerca de 6.000 metros quadrados dentro

do Horto Municipal de Campos, para uso pela empresa EMEC, além de

averiguar a possível ocorrência de danos ao meio ambiente e à saúde dos

moradores vizinhos e de usuários do Horto. Como resultado da denúncia,

ocorreu uma reunião no MPE, no dia 23 de junho, com o comparecimento de

uma comissão de moradores, representantes do INEA, do CCZ, da EMEC, de

Secretarias Municipais e da Procuradoria Geral do Município.

Conforme consta na Ata da referida reunião, o representante do INEA

declarou que a empresa EMEC não possuía, até aquela data, licenciamento

ambiental, tanto no endereço do Horto, como também não possuíra em seu

estabelecimento anterior (em Guarús), tendo sido notificada e autuada. Foi

também comunicado na reunião, que a empresa estava operando no Horto há

seis meses sem possuir alvará e certificado do CBMERJ. É no mínimo

surpreendente que uma empresa prestadora de serviços que lida com

herbicidas, e que construiu fossas subterrâneas para o suposto descarte de

dejetos de banheiros sem tratamento em pleno terreno do Horto Municipal,

vinha atuando no Município há tempos sem possuir licença ambiental. Foi

também constatada pelo MPE, a ocorrência de vazamento em embalagem de

herbicida. Já o CCZ, convocado pelo MPE, detectou a presença de vetores da

dengue nas instalações da EMEC, o que vinha colocando em risco os

A observação de imagens do Google Earth mostra a presença no Horto

dos veículos pesados da EMEC, já em meados de novembro de 2014. O

gerente da empresa, em reunião com uma comissão de moradores, logo ao

início das atividades, pediu um tempo para por a casa em ordem. O que se

verificou, passados vários meses, foram apenas mudanças cosméticas. Por

exemplo, durante pelo menos 3 meses, a movimentação de entrada e saída

dos caminhões da EMEC ocorria ao lado dos brinquedos situados próximos ao

portão do Horto, sem que uma cerca de separação fosse construída, o que

efetivamente gerou uma situação de risco potencial à vida das crianças, fato

que é agora reconhecido pela própria empresa. Mas é de inteira

responsabilidade do gestor prever as situações de riscos, para não dizer depois

que ocorreu uma fatalidade, que é a desculpa esfarrapada usual neste país. A

EMEC só começou a fazer ajustes de conduta mais efetivos a partir das

denúncias dos moradores ao MPE em fevereiro de 2015, e a alguns dos meios

A EMEC conseguiu atender a algumas exigências do MPE na questão

ambiental, mas os vizinhos continuam a sofrer uma série de transtornos. Os

testes de ruído realizados com decibelímetro, a mando do MPE, indicaram que

no momento das medições o nível de ruído estava abaixo dos limites tolerados.

Mesmo que as medições efetuadas naquele momento sejam representativas

do nível máximo de ruído a que os moradores são submetidos diariamente

(não consideramos que sejam), isto não serve de consolo para quem passou a

ter seu repouso afetado pelos horários das atividades da empresa no local. Os

transtornos começam já a partir das 6:30 da manhã, com as conversas de

funcionários em voz alta, seguidas do barulho de buzinas, sirenas e ruído dos

motores por volta das 08:00, um verdadeiro inferno; o transtorno volta a ocorrer

ao final do dia, com a volta dos veículos, acrescentando-se ainda, por vezes, o

ruído de serra elétrica no decorrer do dia. Pode ser que a própria gerência não

tenha controle efetivo em manter um comportamento adequado de seus

funcionários, que possibilitasse minimizar estes transtornos.

Uma outra possível indicação desta falta de controle, é o fato de alguns

funcionários da empresa urinarem próximo às janelas das residências, se

expondo de forma indevida. A reclamação veio de uma menina de 13 anos

que, assustada, ligou para seu pai no trabalho.  Isto apenas confirma que a

presença de uma empresa, com o porte e atribuições como as da EMEC, é

totalmente incompatível com a proximidade de residências, e deveria estar

instalada em um distrito industrial.

Como o MPE concedeu tempo à EMEC para regularizar as falhas

ambientais e na documentação dos licenciamentos, a questão fundamental

para o Ministério Público passou a ser se ocorreu ou não Improbidade

Administrativa no processo de cessão de uso do terreno. O representante da

EMEC comunicou na reunião de 23 de junho (consta da Ata) que a

contrapartida da empresa para se estabelecer no Horto foi a realização de

manutenção e limpeza de todo o local, o que gerou de imediato o comentário

da Promotoria (que não consta em Ata), que tal contrapartida parecia

“pífia”. Fica a pergunta: se não houve vantagem para o bem público, o que falta

então para caracterizar a Improbidade Administrativa desta cessão?

A Prefeitura, no entanto, em documento enviado ao MPE, em 5 de

novembro faz alguns malabarismos para tentar convencer a Promotoria de que

a ocupação gerou uma “economia do Município na ordem das centenas de

milhares”. Acrescenta ainda, que “alugar aquele espaço subaproveitado, não

retornaria todo este valor agregado....”. Concordamos com a Prefeitura, mas

por outros motivos, que  alugar “aquele espaço subaproveitado” não é

interessante para Campos. O que a população espera da Prefeitura não é fazer

caixa com o aluguel de uma área integrante do Horto Municipal, e sim valorizá-

la do ponto de vista ambiental e paisagístico.

E esta é exatamente a origem de outra suposta irregularidade

decorrente da ocupação de espaço do Horto pela EMEC, e que também, em

tese, caracterizaria o cometimento de Improbidade Administrativa, conforme

nova denúncia encaminhada em 22 de setembro pela comissão de moradores

à Promotoria de Justiça da Tutela Coletiva do MPE. Embora o Horto não seja

uma área de conservação permanente, ele está muito bem caracterizado no

Plano Diretor do Município, datado de 2008, como sendo uma Área de Especial

Interesse de Recuperação e Valorização Paisagística (ver Capítulo II, Seção

I/Subseção II e mapa número 7).

Ao contrário do que está preconizado no Plano, o que está ocorrendo no

terreno ocupado pela EMEC se assemelharia mais a uma Degradação

Paisagística. A bem da verdade, o processo de degradação da referida área do

Horto ocupada pela EMEC antecede de vários anos a presença da empresa,

pois, mesmo na foto mais antiga disponível no Google Earth (2004), a região já

apresentava pouca arborização. De fato, ocorreu perda progressiva da

arborização naquela área, sem que houvesse reposição. Uma exceção, no

sentido de valorizar aquela área ocorreu em 2004, com a implementação de

extensos canteiros de plantas medicinais, projeto que foi infelizmente

desativado após poucos anos.

Em 31 de março de 2008 a Câmara Municipal de Campos aprovou e

promulgou o atual Plano Diretor, em que ao Horto Municipal é concedida a

classificação de Área de Especial Interesse. Mas não foi nem Recuperação,

nem Valorização Paisagística o que veio a ocorrer. Em 2012, às vésperas do

evento internacional do meio ambiente Rio+20, toda a vegetação baixa do

referido terreno ficou completamente amarelada em poucos dias, sinalizando

que poderia ter ocorrido a farta utilização de poderosos herbicidas, do tipo

glifosato, como o Roundup.  Pode-se inferir o efeito que o uso de tal quantidade

de herbicidas pode causar no eco-sistema e no lençol freático.

Com a cessão e ocupação pela EMEC ao final de 2014, os anseios de

que aquela parte do Horto pudesse ser finalmente revitalizada foram mais uma

vez frustrados. Mais grave ainda foi o fato de que, diferentemente das

situações anteriores, a cessão do espaço pela Prefeitura “oficializou” a

degradação daquela parte do Horto, por inviabilizar a implementação da

Recuperação Paisagística preconizada pelo Plano Diretor, ao mesmo tempo

em que o eco-sistema então existente foi devastado. Mesmo na ausência de

árvores frondosas, a vegetação existente possibilitava a presença de uma

fauna variada, incluindo gambás, roedores, borboletas, pássaros variados

incluindo corujas, e, até mesmo, uma ou outra cobra. Agora, destruído o

sistema ecológico com a devastação da vegetação, os gambás invadem com

frequência as residências, e as corujas não mais são observadas naquela

Por entender que a Prefeitura pode ter violado o Plano Diretor, por não

cumprir o que estava nele especificado em relação ao Horto Municipal, a

comissão encaminhou nova denúncia ao Ministério Público em 22 de setembro.

Na entrega do documento, a Promotoria informou que se for comprovada a

violação do Plano Diretor, pelo suposto desvio da finalidade de Valorização e

Recuperação Paisagística em que o Horto Municipal se enquadra, estaria

caracterizado o cometimento de Improbidade Administrativa, da mesma forma

que a cessão do terreno, sem benefício satisfatório para o município, pode ter

também atentado contra os princípios da administração pública.

Queremos que a área degradada seja resgatada para a população,

respeitando os objetivos preconizados pelo Plano Diretor, instrumento que não

deve ser tratado como peça decorativa, mera carta de intenções. O Povo

Campista, que tanto se orgulha de seu Horto Municipal, não deve ficar calado

diante desta situação inadmissível, resultante da ação de administradores

A comissão aproveita para reiterar sua confiança em que o Ministério

Público irá, ao final do inquérito, determinar que a EMEC desocupe o Horto e

que a Prefeitura fique obrigada a promover a recuperação da paisagem local,

em consonância com o Plano Diretor, de forma que a população campista

possa usufruir da área. É necessário romper com o paradigma atual de

crescimento do Município de Campos, em que não é prioritária a criação de

bosques urbanos ou parques arborizados, e as poucas áreas verdes que

restam são gradualmente destruídas.

Comissão de Moradores e Amigos do Horto

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