segunda-feira, novembro 23, 2015

LAMA DA SAMARCO CHEGA AO MAR CAPIXABA

Por Dandara Tinoco

LINHARES (ES) e RIO - A onda de rejeitos de minério exibiu ontem seus primeiros estragos na fauna da foz do Rio Doce, no vilarejo de Regência, em Linhares (ES). Peixes mortos, das espécies bagre-mandi e caçari, podiam ser vistos boiando na barra norte, atualmente o ponto único de ligação do rio com o oceano. À tarde, a maré alta vencia a mancha laranja lançada pelo rompimento da barragem em Mariana (MG), freando o seu avanço ao Atlântico. Ao norte, contudo, era possível ver ondas cor de barro quebrando na praia de Povoação, distrito localizado na outra margem do rio. Ali também foram encontrados exemplares de bagre-pintado sem vida na areia. Na região, considerada pelo governo federal área prioritária de conservação ambiental, vivem espécies sob ameaça, como a toninha e a tartaruga-de-couro.

Prefeito de Linhares, Nozinho Correia (PP) afirmou que o município acionará a Samarco judicialmente caso se comprove que a fauna e a flora locais foram destruídas:

— A Samarco tem de estar consciente de que vai ser responsabilizada por tudo o que acontecer. Até agora temos a informação de que, por onde essa água passa, ela mata tudo. Caso existam falhas, vamos entrar na Justiça.

Moradores e ambientalistas acompanhavam a mudança da paisagem. Anteontem, dois manifestantes vestidos de morte arrancaram aplausos ao transitar de barco. Um deles carregava uma foice em que estava escrito o nome da Samarco, empresa controlada pela Vale e pela BHP Billiton, responsável pela barragem que se rompeu no dia 5 deste mês, devastando o distrito de Bento Rodrigues.

— Tive coragem de vir aqui só umas quatro horas depois de acordar. O rio já estava assolado há tempos; agora vai acabar de morrer — lamentou a servidora pública Joselita dos Anjos, de 49 anos, moradora de Regência.

TURBIDEZ DA ÁGUA QUATRO VEZES MAIOR

Condições naturais dificultavam a saída da lama para o mar. A barra sul está fechada desde junho, em razão da seca. Há duas semanas máquinas trabalham no local na tentativa de reabri-la. A força do oceano, porém, vem frustrando a ação.

— Nosso interesse é que o fluxo (para o mar) ocorra o quanto antes e seja o maior possível. Quanto mais esse material fica aqui, mais tempo ele tem para se decantar, o que é nocivo para o meio ambiente — avaliou Luciano Cabral, biólogo da prefeitura de Linhares.

Embora a mancha laranja tenha ultrapassado as boias instaladas pela Samarco, Alexandre Souto, gerente-geral de Estratégia, Gestão e Informação da empresa, disse que testes indicaram resultados positivos do trabalho de mitigação de impactos no meio ambiente:

— A água que está passando pelo canal norte, o que está aberto, tem 2.500 NTUs de turbidez. Aqui nas áreas protegidas, temos até 80% menos turbidez. Apesar de visualmente termos dificuldade de acompanhar isso, os testes estão apontando que estamos tendo até 80% de eficiência.

Nove quilômetros de boias, normalmente usadas na contenção de derramamento de óleo, foram instalados em áreas sensíveis do rio. De acordo com o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Linhares, a turbidez constatada anteontem na região central da cidade, a 50 quilômetros da foz, foi de quatro mil NTUs. O limite para tratamento de água é de mil NTUs.

A importância da Conferência do Clima não está em discussão, mas para o coordenador de campanhas do Greenpeace Brasil, Nilo D’Ávila, a maior tragédia ambiental do país deveria ser a prioridade do governo neste momento. Ele lamentou a desarticulação da resposta ao desastre e a falta de envolvimento de ministros na assistência às vítimas:

— O que assusta é ver o quão pouco o governo federal está fazendo. Parece que foi em outro país. Se eu fosse ministro do Meio Ambiente, não iria à conferência de Paris. Esse desastre é uma tragédia nacional, uma emergência muito mais importante para o Brasil, e não tem sido tratado com a devida relevância. Não vemos uma participação maior da ministra do Meio Ambiente, e o ministro das Minas e Energia sequer se pronunciou. Deveria haver um gabinete de crise — lamentou D'Ávila. (Ana Lúcia Azevedo)



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/brasil/prefeitura-de-linhares-podera-acionar-samarco-18115571#ixzz3sLQqleLP

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