sábado, setembro 26, 2015

MINHA CIDADE...

MINHA CIDADE


Minha cidade pulsa no meu pulso,
arde nos meus olhos,
depois se infurna por Goitacazes,
Mussurepe, Santo Amaro
e acaba virando mar no Cabo de Sáo Tomé
pelos meus versos.
Cidade parideira,
derrama seus filhos por suas franjas,
em meio  a cacos de vidro, perfumes baratos
e cheques_cidadãos.
Cidade violada
sempre pelo mesmo carrasco,
que se enverniza,
troca o paletó
pela camisa,
o par de botas
pelo scarpin,
mas é a mesma boca torta,
é a mesma artéria aorta
é o mesmo sangue ruim.
cidade dividida,
meio madame, meio puta
tem a cara da Pelinca
e os pés enlameados, plantados
nas valas putrefactas
da Terra Prometida.
Sou filho adotivo desta mãe-cidade,
quando aqui cheguei estranhei
a amplidão do céu sobre a planície,
a liberdade incrustada em sua geografia,
como o petróleo, como a argila,
tudo aberto, horizonte à descoberto
aqui o sol demora a se por.
Morri três vezes, de paixão por esses campos,
na praça do Santíssimo
e três vezes ressuscitei de amor.
cidade sedutora, tatuagem em meu coração plebeu,
pode um filho teu amar-te tanto,
mas nunca, de maneira alguma, mais do que eu.
Espero sempre a madrugada pálida
para curar tuas feridas,
afogar seus medos, fazer tranças
em seus cabelos de pendões da cana.
Faze-la adormecer um pouco
para esquecer o proxeneta que te vende.
Não tarda virá seu vingador tenaz,  
no lombo do bravio vento sul,
o coronel do romance zécandiano
com seu punhal cravejado
com as conchas das areias do Xexé
e há de sangrar a jugular do teu algoz,
quando for meio dia,
em plena rua do homem em pé.

FLF

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