Neste dia 31, comemora aniversário, o poeta Antonio Roberto Fernandes. O mais integral poeta que conheci e li, o mais lírico. Inesquecível.
Reproduzo aqui, um de seus textos que mais gosto:
MAS...
E eu que achei que a lua não brilhasse
sobre os mortos no campo da guerrilha,
sobre a relva que encobre a armadilha
ou sobre o esconderijo da quadrilha,
mas brilha.
E achei que nenhum pássaro cantasse
Se um lavrador não mais colhe o que planta,
Se uma família vai dormir sem janta
Com um soluço preso na garganta,
Mas canta.
Também pensei que a chuva não regasse
A folha cujo leite queima e cega,
A carnívora flor que o inseto pega
Ou o espinho oculto na macega,
Mas rega.
Pensei também que o orvalho não beijasse
A venenosa cobra que rasteja
No silêncio da noite sertaneja
Sobre as ruínas de esquecida igreja,
Mas beija.
Imaginei que a água não lavasse
O chicote que em sangue se deprava
Quando, de forma monstruosa e brava,
Abre trilhas de dor na pele escrava,
Mas lava.
Apostei que nenhuma borboleta
- por ser um vivo exemplo de esperança –
Dançaria contente, leve e mansa
Sobre o túmulo em flor de uma crianbça,
Mas dança.
Por isso achei que eu não mais fizesse
Poema algum após tanto embaraço,
Tanta decepção, tanto cansaço
E tanta espera, em vão, por teu abraço,
Mas faço.
Lindo! Lindo! Lindo! Saudades! Antônio Roberto nos deixou cedo demais.
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