sexta-feira, abril 18, 2014

ANTES DA PÁSCOA, O MARTÍRIO DE CRISTO

Cresci numa família matriarcal. Meu pai morreu muito cedo e minha mãe dedicou sua vida à minha formação e dos meus irmãos e à sua fé, herança dos seus pais católicos, apostólicos, romanos, tradicionalistas.
Minha mãe não transigia com seus compromissos com a Igreja. Era do séquito das filhas de Maria. Frequentava o templo, regularmente, e cabia a mim, caçula da prole, lhe fazer companhia. Naquela época, não era de bom tom que uma mulher viúva andasse sozinha. Repousariam sobre ela os olhos de censura da tradicional família fidelense.
Muitas vezes, acompanhei a procissão do Senhor Morto, um espetáculo mórbido e grandioso, Jesus com o coração sangrando, Mártir da nossa salvação. Entediado, dormia na missa, nas novenas. A voz monocórdia e o sotaque catalão do Monsenhor iam diminuindo de intensidade e eu era tomado pelo sono profano.
Lembro com clareza que a Semana Santa tinha, na minha casa, o peso da morte de alguém muito próximo. Nós carpíamos a dor do Cristo preso e crucificado.
Era uma Semana diferente. Não gritávamos uns com os outros e eramos 7 irmãos, os palavrões eram banidos do vocabulário, o rádio ficava mudo, desligado e cumpríamos a abstinência absoluta de carne.
Minha mãe, Djanira, era ainda mais radical na sua fé. Seus compromissos religiosos começavam no primeiro dia da Quaresma.
O clima de sofrimento e de pesar pelo Suplício do filho de Deus só era vencido na missa da manhã do Domingo de Páscoa, quando a igreja era inundada de luz, que vazava os vitrais coloridos e anunciava a boa nova da Ressurreição.

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