sábado, maio 12, 2012

DIA DAS MÃES


Mãe! eu volto a te ver na antiga sala 
onde uma noite te deixei sem fala 
dizendo adeus como quem vai morrer. 
E me viste sumir pela neblina, 
porque a sina das mães é esta sina: 
amar, cuidar, criar, depois... perder. 
Perder o filho é como achar a morte. 
Perder o filho quando, grande e forte, 
já podia ampará-la e compensá-la. 
Mas nesse instante uma mulher bonita, 
sorrindo, o rouba, e a velha mãe aflita 
ainda se volta para abençoá-la 

Assim parti, e nos abençoaste. 
Fui esquecer o bem que me ensinaste, 
fui para o mundo me deseducar. 
E tu ficaste num silêncio frio, 
olhando o leito que eu deixei vazio, 
cantando uma cantiga de ninar. 

Hoje volto coberto de poeira 
e te encontro quietinha na cadeira, 
a cabeça pendida sobre o peito. 
Quero beijar-te a fronte, e não me atrevo. 
Quero acordar-te, mas não sei se devo, 
não sinto que me caiba este direito. 

O direito de dar-te este desgosto, 
de te mostrar nas rugas do meu rosto 
toda a miséria que me aconteceu. 
E quando vires e expressão horrível 
da minha máscara irreconhecível, 
minha voz rouca murmurar:''Sou eu!" 

Eu bebi na taberna dos cretinos, 
eu brandi o punhal dos assassinos, 
eu andei pelo braço dos canalhas. 
Eu fui jogral em todas as comédias, 
eu fui vilão em todas as tragédias, 
eu fui covarde em todas as batalhas. 

Eu te esqueci: as mães são esquecidas. 
Vivi a vida, vivi muitas vidas, 
e só agora, quando chego ao fim, 
traído pela última esperança, 
e só agora quando a dor me alcança 
lembro quem nunca se esqueceu de mim. 

Não! Eu devo voltar, ser esquecido. 
Mas que foi? De repente ouço um ruído; 
a cadeira rangeu; é tarde agora! 
Minha mãe se levanta abrindo os braços 
e, me envolvendo num milhão de abraços, 
rendendo graças, diz:"Meu filho!", e chora. 

E chora e treme como fala e ri, 
e parece que Deus entrou aqui, 
em vez de o último dos condenados. 
E o seu pranto rolando em minha face 
quase é como se o Céu me perdoasse, 
me limpasse de todos os pecados. 

Mãe! Nos teus braços eu me transfiguro. 
Lembro que fui criança, que fui puro. 
Sim, tenho mãe! E esta ventura é tanta 
que eu compreendo o que significa: 
o filho é pobre, mas a mãe é rica! 
O filho é homem, mas a mãe é santa! 

Santa que eu fiz envelhecer sofrendo, 
mas que me beija como agradecendo 
toda a dor que por mim lhe foi causada. 
Dos mundos onde andei nada te trouxe, 
mas tu me olhas num olhar tão doce 
que , nada tendo, não te falta nada. 

Dia das Mães! É o dia da bondade 
maior que todo o mal da humanidade 
purificada num amor fecundo. 
Por mais que o homem seja um mesquinho, 
enquanto a Mãe cantar junto a um bercinho 
cantará a esperança para o mundo!

Giuseppe Ghiaroni

(*) Antonio Roberto declamava este poema divinamente.

8 comentários:

  1. geraldo Lopes Raphael12 de maio de 2012 às 23:31

    Doído, angustiante...maravilhoso!

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  2. Acabei de ler a poesia e não consigo segurar as minhas lágrimas. Maravilhoso.

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  3. Fernando,
    Comecei a ler e "ouvia" Antonio Roberto ssussurarrando esta beleza de Poesia.Eis que vejo no topo sua lembrança também...
    Abraço fraterno,
    Walnize Carvalho

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  4. ¨Por mais que o homem seja um mesquinho,
    enquanto a mãe cantar junto a um bercinho,
    cantará a esperança para o mundo!
    Que as mães e os ¨pães¨, aquels homens fantásticos que exercem o papel de mães para seus filhos(o meu é um deles)façam frutos doces e possibilitadores de um novo paradigma de humanidade.
    AMÉM.

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  5. Simplesmente maravilhoso. Deveria estar nas capas, dos principais jornais do pais, no dia de hoje.

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  6. Simplesmente maravilhoso. Acho que deveria estar nas capas de todos os jornais no dia de hoje.

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  7. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  8. Fernando, a poesia de Ghiaroni é maravilhosa, mas conseguia ficar ainda mais bela na voz do Antonio Roberto.
    Muito boa lembrança.

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