Retirada da primeira vítima fatal dos escombros dos predios |
RIO - Bombeiros resgataram, na manhã desta quinta-feira, os corpos de três vítimas nos escombros dos três prédios que desabaram por volta de 20h30m da noite de quarta, na Cinelândia, no Centro do Rio. O primeiro corpo, que estava nos escombros do prédio mais alto, é de um homem, identificado como Celso pelo subsecretário da Defesa Civil, Márcio Mota. O segundo corpo resgatado seria de uma mulher, ainda não identificada. Ainda não se sabe o sexo da terceira vítima morta nos desabamentos. Segundo os bombeiros, há uma lista de 19 possíveis desaparecidos. Cinco pessoas foram hospitalizadas no Souza Aguiar, e duas já tiveram alta. Uma outra pessoa deu entrada no Hospital estadual Getúlio Vargas e também já foi liberada. As primeiras informações da Defesa Civil davam conta de, pelo menos, 11 mortos, o que não se confirmou durante a madrugada.
Por volta das 10h desta quinta-feira, a Defesa Civil evacuou o prédio de número 118 da Rua Senador Dantas, para onde está sendo desviado o trânsito na região. O edifício, que tem nove andares e não fica na mesma rua dos que desabaram, apresenta risco de abalo na estrutura. Ele está localizado a 200 metros do local dos desmoronamentos.
Há muita poeira e fumaça nos arredores do local do desabamento, onde agentes trabalham com máscaras. Além da poeira levantada pelo trabalho dos bombeiros, que estão vasculhando a área em busca de vítimas, há pequenos focos de fogo em meio aos destroços. As chamas são provenientes do contato do gás das tubulações que romperam com material inflamável.
O tenente-coronel Julio César Mafia, oficial de dia do Quartel de Operações com Cães da Polícia Militar, acredita que há possibilidade de encontrar sobreviventes nos escombros dos três prédios. Segundo ele, as vítimas podem conseguir sobreviver em bolsões de ar que se formam nesse tipo de acidente. Ele comparou o caso ao desabamento das torres do World Trade Center, em Nova York, após terem sido atingidas por aviões em um ataque terrorista em 11 de sembro em 2001. O oficial lembrou que foram encontrados sobreviventes dias depois do colapso dos edifício.
— Estamos trabalhando com a hipótese de 19 pessoas desaparecidas. É um trabalho ligeiro, porém feito com cautela porque acreditamos que é possível encontrar pessoas nesses bolsões de ar. Estamos trabalhando com muito cuidado para evitar nos desmoronamentos.
A Secretaria de Estado de Saúde colocou em alerta todos os hospitais da rede pública estadual, além das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) da Tijuca e de Botafogo, que são as mais próximas ao local dos desabamentos. Pelo mesmo motivo, o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, é o que está recebendo as vítimas. Mas o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, atendeu durante a noite de quarta-feira uma paciente de 48 anos, que chegou por conta própria contando que caiu após os desabamentos. Ela apresentava escoriações superficiais e recebeu alta. A paciente chegou com as roupas cobertas de pó, disse que trabalha em um prédio em frente ao local do acidente e que optou por ir ao Getúlio Vargas por ser mais próximo de sua casa.
No Centro de Apoio, improvisado pela prefeitura na Câmara dos Vereadores do Rio, pelo menos 15 famílias de pessoas que poderiam estar dentro dos prédios na hora do desabamento vararam a madrugada em busca de alguma notícia, segundo informações da Globonews.
O analista de sistemas Fernando Amaro conta que pelo menos cinco pessoas de sua empresa que participavam de um treinamento estariam dentro de um dos três prédios. Já o advogado Guilherme Sousa, de 28 anos, aguarda, na Câmara, notícias sobre sua irmã, Sabrina Prado, programadora, que havia acabado o expediente no prédio 44 da Avenida Treze de Maio e se encaminhou para um curso, no mesmo edifício, na hora do desabamento.
— No Centro de apoio (montado pela prefeitura na Alerj), há cerca de 80 pessoas esperando informações sobre seus familiares — afirmou Guilherme.
Ele soube da tragédia através do telefone do noivo da irmã e, desde a noite de quarta-feira, procura alguma informação sobre o paradeiro de Sabrina. Michele Barbosa, de 33 anos, é outra das várias pessoas atendidas por médicos e psicólogos na Alerj, na madrugada desta quinta-feira, enquanto aguarda notícias de seu marido. O analista de sistema, Marcelo Rebelo, 47 anos, fazia um curso de especialização em Tecnologia da Informação em um dos prédios que desabaram. Michele começou a se preocupar quando ligou para o marido, depois do horário da aula e ele não atendeu. Marcelo, casado com Michele há 11 anos, com quem tem uma filha, estava na penúltima aula antes da conclusão do curso.
— Ele sempre chegava por volta de 21h10m. Eram 21h e ele não atendia minhas ligações e não chegou em casa. Não sei qual era o prédio do curso, só sei que era um desses —contou.
Até a manhã de quinta-feira, cinco pessoas feridas foram resgatadas e deram entrada no Hospital Souza Aguiar, entre elas, Marcelo Antonio Moreira, zelador de um dos prédios e Francisco Rodrigo da Costa, operário que trabalhava dentro de outro prédio que caiu e foi resgatado no elevador. Ambos tiveram ferimentos leves. Uma mulher, porém, Cristiane do Carmo, de 28 anos, está com traumatismo craniano e com uma fratura no braço. Ela passou por uma cirurgia na unidade. Já o Hospital Getúlio Vargas atendeu durante a noite de quarta a paciente M.M., 48 anos, que chegou por conta própria à unidade, com relato de queda ao solo após desabamento do prédio da Rua Treze de Maio, no Centro. Segundo nota da secretaria de saúde, M.M apresentou escoriações superficiais e ficou sob avaliação, mas era bom o estado geral e recebeu alta: “A paciente chegou com as vestes cobertas de pó, disse que trabalha em um prédio em frente ao local do acidente e que optou por ir ao HEGV por ser mais próximo de sua casa”.
Começam investigações sobre possíveis causas
O prefeito Eduardo Paes, que logo após a tragédia esteve no local, não acredita que os desabamentos tenham sido provocados por escapamento de gás. De acordo com ele, a maior possibilidade de ter sido um problema estrutural no prédio de 20 andares, que estava em obras. Porém, ele ressalta que ainda é cedo para uma informação precisa sobre as causas da tragédia:
— Há fiscalização permanente da prefeitura dos prédios, e é preciso saber exatamente o que aconteceu porque existem prédios muito mais antigos e que não têm problemas — disse Paes.
O engenheiro civil, especialista em estrutura do Crea, Antonio Eulálio Pedro vistoriou na manhã desta quinta-feira o local do desmoronamento. Ele acredita que pode haver três hipóteses para a queda do prédio de 20 andares, o que teria desabado primeiramente. O corte de uma viga, com ruptura brusca, a corrosão e infiltração da laje da cobertura ou o entulho de obra como sacos de cimentos, latas de tintas, que provocou o excesso de peso e o rompimento da estrutura. O Crea vai tentar localizar o engenheiro responsável pela obra. Ele descarta a possibilidade de vazamento de gás, e diz que o prédio caiu de cima para baixo.
- Se o acidente fosse às 15h, morreriam mais de 500 pessoas, fora os pedestres - lamentou.
Ele acredita que a hipótese de retirada da viga é a mais provável. Ele descarta o risco de o desmoronamento ter atingido o Teatro Municipal.
O presidente da Comissão de Análises e Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), Luiz Antonio Cosenza, não descarta qualquer hipótese de causa dos desabamentos. Nem mesmo uma explosão provocada por vazamento de gás, que seria a mais remota das hipóteses, uma vez que os prédios caíram de cima para baixo. Ainda segundo ele, foram constatadas obras irregulares no terceiro e no nono andar do prédio mais alto. Mas, a última obra no local que teve registro no Crea era de 2008.
- Normalmente os prédios do Centro são bem construídos. Não posso afirmar o que provocou os desmoronamentos. Pode ser fruto de outras obras irregulares que mudaram as vigas ou colunas. Depois do resgate das vítimas, é preciso limpar o local para uma melhor análise do que houve - disse Cosenza.
Fonte: O Globo, atualizado às 10:30h
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