PIRATARIA

(Por e-mail)

Coincidentemente ou não, mas sempre que se aproximam algumas datas festivas, os órgãos de imprensa noticiam a ação da polícia, apreendendo produtos ditos “piratas”, termo a meu modo de ver errôneo. “Pirata” para mim são objetos roubados, que não é caso, pelo menos, não é o que as autoridades declaram. Produtos falsos também não são, pois falso vem de falsidade, que segundo Koogan/Houaiss significa mentira, hipocrisia, etc., o que também não é o caso, pois quem compra num camelódromo, por exemplo, sabe que o produto que está adquirindo não é verdadeiro. O que se vende, na verdade, são produtos copiados dos ditos originais (originais com reservas, pois será que as lojas ditas regularizadas, são também fiscalizadas?). O delito neste caso é o chamado crime imaterial, quando se copia algo, sem ordem expressa do seu inventor, ou criador.

                O que entendo, é que na verdade, a ação do estado, com seu poder de polícia, nada mais é do que atender ao interesse das classes dominantes, neste caso, representados pelos comerciantes (antigos burgueses) e atender ainda a insaciável fome de arrecadação de impostos, tal qual na Idade Média, a fim de sustentar uma casta privilegiada, “colocada” no poder, pelo povo. É o sistema que não privilegia quem produz, quem realmente trabalha, mas sim quem negocia, quem enriquece com o suor dos outros. O empresário, normalmente começa com um pequeno empreendimento e algum tempo depois, já têm filiais dos seus estabelecimentos, mansões, carrões, iates, etc. Enquanto isso, o seu empregado, ganhando um salário irrisório, chega ao fim da vida, com a mesma situação que começou a trabalhar.

                Como bem coloca Rousseau em sua obra, O Contrato Social: “o povo pensa ser livre e muito se engana, pois só o é durante as eleições dos seus representantes; uma vez eleitos, ele é escravo”(CS, III, XV).

                Infelizmente, a cada eleição, o povo “elege” os seus opressores.

                Obs: a palavra elege está entre aspas, pois o povo só irá eleger realmente os seus representantes, quando puder votar apenas baseado na sua consciência.

                                                                                                              SILVIO PESSANHA