quinta-feira, julho 13, 2017

OPINIÃO

CHAME O LADRÃO

Era inevitável.

A crise de proporções oceânicas que engolfou o Brasil, nos últimos tempos, alimentada pela rapinagem estatal, sem paralelos na história contemporânea, derrubou mitos, forjou idiossincrasias nefastas, estilhaçou o código moral, instaurou a cleptocracia, inventou e disseminou a cultura da esperteza desonesta.

Mas ainda mais grave que tudo, converteu a pacata  sociedade brasileira numa turba insaciável por vingança, quando o ideal era aguçar seu senso de justiça. Não basta mais o castigo que deveria corrigir condutas ilícitas. A privação da liberdade, maior de todos os bens do homem, banalizou-se e nas escadas frontais do terceiro milênio, ecoa surdo o grito das ruas por cada cabeça coroada presa e exposta na mídia, mais faminta e mais voraz. É a versão high tec da lendária guilhotina.

Por incrível que possa parecer, vivemos alguns séculos, nesta abençoada Ilha de Vera Cruz com suas mais delirantes contradições. A descoberta da terra, a consequente posse e a extinção quase completa dos índios; o Império devasso de Dom Pedro I e a unidade do país, à despeito das investidas mercenárias; a tardia abolição da escravatura, a controvertida república, fatos que moldaram uma sociedade desigual, “tudo tão desigual”.

Contudo, havia uma certa harmonia na desordem social. Os ricos, aparentemente, conviviam com o medo que, um dia, os pobres descessem os morros e tomassem de assalto o asfalto. A Ciência Social também formulava esta tese. Mas, qual, o que se revelou, no meio nessa pilhagem dos colarinhos brancos, o verdadeiro perigo, a ameaça real é que os pobres são os que devem temer que esses janotas do crime resolvam subir os morros.


(FLF)

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